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domingo, 21 de outubro de 2018

Resenha nº 131 - Harry Potter e A Pedra Filosofal, de J. K. Rowling


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Título original: Harry Potter and The Philosofer’s Stone
Título em português: Harry Potter e A Pedra Filosofal
Autora: J. K. Rowling
Tradutor: Lia Wyler
Editora: Rocco
S/Ed
Copyright: 1997
ISBN: 85-325-1101-5
Gênero literário: Romance Infanto-juvenil
Origem: Inglaterra
Bibliografia da autora (incompleta) – Série Harry Potter: Harry Potter e A Pedra Filosofal, 1997; Harry Potter e A Câmara Secreta, 1998; Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban, 1999; Harry Potter e O Cálice de Fogo, 2000; Harry Potter e A Ordem da Fênix, 2003; Harry Potter e O Enigma do Príncipe, 2005; Harry Potter e As Relíquias da Morte, 2007. Obras relacionadas à série Harry Potter: Animais Fantásticos e Onde Habitam (roteiro do filme), 2001; Quadribol Através dos Séculos, 2001; Os Contos de Beedle, O Bardo, 2008; Harry Potter e A Criança Amaldiçoada (roteiro escrito por Jack Thorne), 2016; Short Stories from Hogwarts of Power, Politics, and Pesky Poltergeists, 2016; Short Stories from Hogwarts od Heroism, Hardship and Dangerous Hobbies, 2016; Hogwarts: An Incomplete and Unreliable Guide, 2016; Animais Fantásticos e Onde Habitam (roteiro do filme), 2016. Contos: A Prequela de Harry Potter, 2008; Dumbledore’s Army Reunites at Quiddditch World Cup Final, 2014. Adultos: Morte Súbita, 2012. Série Cormoran Strike: O Chamado do Cuco (como Robert Galbraith), 2013; O Bicho-da-Seda (como Robert Galbraith), 2014; Vocação Para O Mal (como Robert Galbraith), 2015; Lethal White (como Robert Galbraith), a ser lançado.

Como pode alguém, em plena maturidade leitora, ler uma bobagem como Harry Potter e A Pedra Filosofal?! Para responder a esta questão preconceituosa, é preciso exatamente... ser um leitor maduro! Explico-me: um leitor maduro é aquele que consegue relativizar, é aquele que consegue partir de contextualizações do que lê. Ah, e tem aquele menino que insiste em coexistir com o homem maduro, que o abandona por instantes e se diverte com coisas simples e simplesmente encantadoras. A profissão de professor favorece isto, reconheço, pois, por dever de profissão, para encantar alunos temos de encantar nossa criança interna. Este Harry Potter é uma releitura. Sou capaz de me encantar com ele, com O Senhor dos Anéis, com As Crônicas de Nárnia. Leitores de fantasia talvez sejam pessoas diferentes. Não melhores, mas diferentes. E, olha, me diverti pra caramba com a leitura deste livro! Precisa mais justificativa?!

Joanne Rowling nasceu em 31/07/1965, em Yates, Gloucestershire, Reino Unido. É filha de Peter James Rowling, um engenheiro mecânico da famosa marca Rolls-Royce e Anne Rowling, uma técnica na área de ciências. Na época de sua infância, Rowling já gostava de escrever história, lidas para sua irmã. Em 1982, tentou ingressar na Universidade de Oxford, mas não obteve sucesso. Obteve o título de Bacharel em Artes em Francês e Estudos Clássicos, na Universidade de Exeter. Joanne casou-se duas vezes: a primeira, com o português Jorge Arantes, quando ela residiu na cidade do Porto, em Portugal, por 18 meses. Deste relacionamento, nasceu Jessica Isabel Rowling Arantes. Casou-se uma segunda vez, com Neil Murray, anestesista escocês. O “K”, ajuntado ao seu nome artístico vem da avó, Kathleen.
J. K. Rowling terminou de datilografar os originais de Harry Potter e A Pedra Filosofal em 1995. O trabalho foi apresentado a nada menos que doze editoras, sendo recusado por todas. Finalmente, recebeu a aprovação da Bloomsbury, uma editora de Londres. Consta que a decisão do editor foi fortemente influenciada pela sua filha Alice Newton, de oito anos, que se encantou com o primeiro capítulo da história e exigiu que lhe lessem o segundo.
Antes de entrar nos comentários do livro, propriamente ditos, vale fazer uma pergunta: que diabos é uma pedra filosofal? Era um artefato buscado por muitos alquimistas (alquimistas eram meio químicos, meio mágicos) da Idade Média. Atribuía-se a este artefato poderes de transformar qualquer coisa em ouro e até mesmo de prolongar a vida de quem o possuísse. Para explicar melhor esta questão importante para a compreensão do livro, deixemos falar a Wikipedia, verbete “Pedra Filosofal”:

“Ao longo da história, criações de pedras filosofais foram atribuídas a várias personalidades, como Paracelsus e Fulcanelli, porém é "inegável" que a lenda mais famosa refere-se a Nicolas Flamel, um alquimista real que viveu no Século XIV. Segundo o mito, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos. Porém, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Segundo a lenda, ele teria encontrado um sábio judeu em uma estrada em Santiago na Espanha, que fez a tradução do livro, que tratava de cabala e Alquimia, possuindo a fórmula para uma pedra filosofal. Por meio deste livro, Nicolas Flamel teria conseguido fabricar uma pedra filosofal. Segundo a lenda, esta seria a razão da riqueza de Flamel, que inclusive fez várias obras de caridade, adornando-as com símbolos alquímicos. Ao falecer, a casa de Flamel teria sido saqueada por caçadores de tesouros ávidos por encontrar pedras filosofais. A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e sua esposa, não faleceram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas no lugar de seus corpos.”

Harry Potter era um bebê quando fora deixado na porta dos seus tios, os Dursley, moradores da Rua dos Alfeneiros, nº 4. A família era composta pelo Sr. Válter Dursley, a Sra. Petúnia Dursley e Duda, filho do casal. Começo triste, embora comum a muitas histórias. Entretanto, antes de Harry ser deixado na porta dos tios, coisas muito, muito estranhas vão acontecendo:
“Foi na esquina da rua que ele [o Sr. Dursley] notou o primeiro indício de que algo estranho ocorria – um gato lia um mapa. Por um instante o Sr. Dursley não percebeu o que vira – em seguida virou rapidamente a cabeça para dar uma segunda olhada. Havia um gato de listras amarelas sentado na esquina da rua dos Alfeneiros, mas não havia nenhum mapa à vista.” (página 8)
O estranhamento continua, no caminho do Sr. Dursley para o seu trabalho. Agora, é a vez de muita gente, estranhamente vestida, nas ruas. Medrosamente, Válter escuta tais pessoas mencionarem à meia voz os Potter e o nome do filho deles, Harry.
Este era um parentesco que o Sr. Dursley preferia não tornar público, pois, no seu conceito, os Potter eram gente muito esquisita. Não eram normais. E ele desejava ser o mais normal possível. Mas não tinha jeito: coisas estranhas continuavam acontecendo; certamente, aquele não seria um dia normal. Ao sair do serviço, às cinco da tarde, o Sr. Dursley deu, sem querer, um encontrão num velho, vestido com uma capa roxa:
“— Não precisa pedir desculpas, caro senhor, porque nada poderia me aborrecer hoje! Alegre-se, porque o Você-Sabe-Quem finalmente foi-se embora! Até trouxas como o senhor deviam estar comemorando um dia tão feliz!” (página 10)
E aí ficamos sabendo que trouxas é como os bruxos designam gente normal, sem poderes encantatórios, gente não bruxa.
E a coisa piora, com uma invasão disparatada de corujas, conforme os noticiários do dia:
“E, por último, os observadores de pássaros em toda parte registraram que as corujas do país se comportaram de forma muita estranha hoje. Embora elas normalmente cacem à noite e raramente apareçam à luz do dia, centenas desses pássaros foram vistos hoje voando em todas as direções desde o alvorecer. Os especialistas não sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o padrão de sono”. (página 11)
Os Dursley são descritos de maneira pouco elogiosa: são estúpidos, permissivos com o filho mimado, gente sem imaginação, grudados à realidade de um mundo sem graça. E, ao serem obrigados a receber Harry Potter na sua casa, têm de aguentar irremediáveis mudanças em sua rotina. É que os pais de Harry morreram num embate com um ser muito poderoso e somente o menino se salvou, mesmo assim, com uma cicatriz na testa, em forma de relâmpago. E o pior, coisas irritantes acontecem na presença do estranho órfão. Duda não para de maltratar Potter. O tempo todo, Harry é lembrado de não pertencer, de fato, à família dos trouxas; ele dorme dentro de um armário, debaixo da escada.
Mesmo num prosaico passeio ao zoológico, as coisas estranhas continuam acompanhando Harry, como se fossem uma espécie de nuvem agourenta:
“A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry.
 E piscou.
 Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também.A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos par o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:
 Isso é o que me acontece o tempo todo.
 — Eu sei – murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo –, deve ser bem chato.A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.
 — Mas de onde é que você veio? – perguntou Harry.
 A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro. Harry espiou.
 Boa Constrictor, Brasil.
 — Era bom lá?
A jiboia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu: Este espécime nasceu em cativeiro.” (página 29)
Várias cartas chegam para Harry, interceptadas pelo tio Válter, que não quer nada com bruxarias e esquisitices. Entretanto, apesar da vigilância dele, Harry acaba sabendo que deverá ir para uma escola chamada Hogwarts, para aprender a lidar com a sua realidade... digamos, mágica. Hogwarts é um grande internato, divido entre quatro casas, com direito a brasões de armas, fantasmas e identificação próprios: Sonserina, Lufa-lufa, Grinfinória e Corvinal. Harry integrará a casa de Grinfinória.
Os relatos, as descrições nada convencionais vão deixando suas marcas no livro. Harry conhece Rúbeo Hagrid, um gigante, que vai orientá-lo em sua matrícula em Hogwarts. Potter vai então para Londres e, seguindo as instruções, descobre um tal Beco Diagonal (nenhum trouxa é capaz de ter acesso a este beco), onde funciona um verdadeiro shopping de rua, com artigos como varinhas mágicas, uniformes, livros de feitiço, de história de magia, diversos apetrechos para feitiçarias básicas ou avançadas, etc.
Comprado todo o material de que necessitará para o primeiro ano, ajudado sempre por Hagrid, Harry embarca sozinho no trem, na plataforma Nove e Meio (plataforma mágica, que se abre entre a nove e a dez, somente para os bruxos). Já em Hogwarts, instituição de ensino à qual Harry Potter tem acesso por viagem de trem, o pequeno bruxo faz amizades com Rony, Hermione Granger (que, a princípio, não vai muito com a cara de Harry), Nelville Longbottom; entra em contato com o bondoso e esperto professor Alvo Dumbledore. Surpreso, percebe que é famoso por ter sobrevivido ao ataque de Você-Sabe-Quem. Cultiva inimigos também, como o professor Snape, a turma de Draco Malfoy.
Muitas, muitas peripécias estranhas vão acontecendo com o nosso bruxo iniciante. Ele terá de aprender, nem sempre de maneira fácil, as regras daquele mundo paralelo. Aprende a jogar o Quadribol, um jogo cujo campeonato apaixona todos em Hogwarts. É disputado por bruxos a bordo de suas vassouras. Harry revela-se um ótimo apanhador e recebe de presente a melhor vassoura voadora do mundo, uma Nimbus 2000, novinha em folha.
Como qualquer estudante, infringe algumas regras, sofre punição por tais faltas. Há constantes discussões, às vezes tapas, entre os amigos de Harry e a turma de Malfoy. Mas Harry é um predestinado, tem poderes imaturos ainda, mas muito fortes.
Harry Potter e A Pedra Filosofal é o primeiro livro de uma série de sete. Esta saga fez a cabeça de muitos jovens pelo mundo todo, cumprindo a importante tarefa de iniciar leitores no mundo da literatura. Não é à-toa. Possui uma história bem contada, interessante, que apela à imaginação. Leitura de escapismo, sim, como insistem alguns, mas encantadora (com trocadilho, é claro).
A tal pedra filosofal estará no centro de uma trama que poderá abalar profundamente não só a instituição de Hogwarts, mas a vida de Harry Potter em particular, e o mundo dos bruxos, em geral. O grande vilão de toda a saga, de que este primeiro volume nos dá vários detalhes iniciais, é este Você-Sabe-Quem, o inominável, referido por seu nome verdadeiro somente pelos mais corajosos, como Voldemort, o assassino dos pais de Harry.
Livros infanto-juvenis procuram sempre trazer alguma mensagem boa, valores positivos, virtudes, uma vez que se destinam a jovens ainda em formação. E Harry Potter e A Pedra Filosofal cumpre bem este papel. Superação, solidariedade, amizade sincera, protagonismo, coragem, trabalho, estudos como fonte de conhecimento útil estão presentes. É muito bom ver-se o contato amigo entre Hagrid, Hermione Granger, Harry Potter, Rony, Nelville.
Parte do sucesso destes sete livros da saga, além da já referida história bem contada e os valores que ela tem, é o planejamento idealizado pela autora, J. K. Rowling. À medida que foram saindo os volumes, a história se atualiza, os personagens crescem e se adequam à evolução psicológica de seus leitores. Desta forma, a narrativa e suas referências vão ganhando maior profundidade a cada livro, mantendo a legião de leitores interessada por mais tempo.
E tanto a série tem seu valor que, estou eu aqui, neste blogue, resenhando um livro infanto-juvenil. Certo, você pode me dizer, era mesmo a sua proposta, você já disse, homenagear o mês das crianças e dos jovens. É verdade. Entretanto, mais do que isso, preciso lhe dizer, li este Harry Potter e A Pedra Filosofal pela segunda vez, e ambas com inegável prazer.
Fica a dica, a quem quiser dar a oportunidade de dar voz e coração à sua própria criança interna. Afinal, nem sempre de complexidades psicológicas, científicas, filosóficas ou políticas vivemos nós, os trouxas. Yuval Noah Harari, escritor do excelente Sapiens – Uma breve história da humanidade nos diz que a capacidade de fabulação é o que tornou o homem um ser superior aos demais. E capacidade de fabulação é o que não falta a este Harry Potter e A Pedra Filosofal.


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