Título em português: A Biologia da Crença
Autor: Bruce H. Lipton
Editora: Butterfley
Tradutora: Yma Vick
Copyright: 2007
ISBN: 978-85-88477-67-4
Gênero: Divulgação científica
Origem: Estados Unidos da América
Bibliografia do autor: The Biology of Belief, 2005 – Filmes:
Heal – Himself, 2017; The Business of Desease – Himself, 2014; Awake in The Dream –
Scientist and Messenger, 2013; Seeds of Death: Unveiling The Lies of GMOs,
2012; Vitality – Himself, 2012; The Great Lesson – Himself, 2012; Cancer is
Curable NOW – Himself, 2011; Beyond Me – Himself, 2010.
Bruce Harold Lipton nasceu em 21/10/1944,
em Mount Kisco, New York. É um biólogo desenvolvimentista americano, mais conhecido
por trabalhar com a ideia de que a expressão gênica pode ser influenciada, por
via epigenética, por fatores ambientais. Autor do best-seller A Biologia da
Crença, é um ex-pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de
Stanford. Lipton é PhD em biologia do desenvolvimento pela Universidade de Virgínia,
em 1971. Foi o ganhador do Prêmio Goi Peace, em 2009, “em reconhecimento ao seu
trabalho pioneiro no campo da Nova Biologia”.
Bruce disse que em algum momento
dos anos 80 abandonou seu posicionamento ateísta, convencido de que a maneira
como as células funcionavam demonstrava a existência de Deus.
Este
foi um dos livros que levei para ler na praia, agora em janeiro de 2019. Já o
havia comprado há muito tempo e ele aguardava, sossegadamente, na minha
prateleira de leituras a serem feitas. Ao começar a leitura, a inquietação
começou. Bruce H. Lipton é um profissional bastante polêmico – alguns o
consideram um charlatão. Segue a linha dos cientistas vinculados às teses
quânticas, que vêm apregoando que as coisas que aprendemos não são bem como
aprendemos. Termos como Teoria das Cordas, Multiversos, Epigenética ficaram
dando voltas na minha cabeça, enquanto eu percebia que, a serem verdades as
afirmativas de Lipton, eu teria de realizar um duro trabalho de desconstrução
do que aprendera nos meus anos de aprendizagem. O tom não é novo para mim, pois
já tive contato com ideias “malucas” de Amit Goswami, um cientista quântico
indiano e já lera alguma coisa do famoso O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra.
Bruce Lipton já começa seu livro
quebrando protocolos para uma obra que se quer de divulgação científica:
“Muito tempo se passou entre minha primeira inspiração científica e a criação deste livro. Durante esse período de transformação pessoal, fui guiado e abençoado por verdadeiras musas encarnadas e desencarnadas: as ‘musas inspiradoras das artes’. Sei que devo muito a algumas delas em especial, pois ajudaram a transformar esse trabalho em realidade.
“As musas da literatura”: a intenção de escrever um livro sobre a nova biologia surgiu em 1985, mas o processo só teve início realmente em 2003, quando conheci Patricia A. King. Patrícia é uma escritora freelancer, que mora em São Francisco, na Califórnia, já foi repórter da revista Newsweek, na qual trabalhou como editora-chefe durante dez anos. Jamais esquecerei de nossa primeira reunião. Despejei sobre ela uma série de teorias sobre a nova ciência, páginas e mais páginas de manuscritos, artigos de jornal que eu havia escrito, caixas contendo fitas de vídeo com palestras e vários impressos sobre o assunto.” (página 7)
Como assim: inspiração, musas,
encarnadas, desencarnadas, abençoado? Podem ser palavras-chaves de trabalho não
acadêmico sobre literatura, artes em geral, mas jamais poderiam estar na
apresentação de um livro sobre biologia – assunto materialista, sem qualquer
concessão a inspirações, bênçãos, musas ou teorias reencarnacionistas. Que saladas
de frutas o Dr. Lipton estaria nos ofertando?!
A escrita é fascinante. Texto ágil,
bem-humorado, tão leve quanto possível. Relatando a gênese deste A Biologia da Crença, o Dr. Bruce diz
que teve o que ele chama de epifania
científica que abalou todas as minhas crenças a respeito da estrutura da vida
diante do mar azul do Caribe, quando ele foi lecionar na universidade de lá:
“Tudo começou quando eu estava pesquisando os mecanismos que controlam a fisiologia e o comportamento das células. De repente, percebi que a vida de uma célula é controlada pelo ambiente físico e energético em que ela se encontra e não pelos genes. Os genes são meros modelos moleculares utilizados na construção das células, dos tecidos e órgãos. O ambiente funciona como uma espécie de “empreiteiro”, que interpreta e monta as estruturas e é responsável pelas características da vida das células. Mas é a “consciência” celular que controla os mecanismos da vida, e não os genes”. (página 16)
Pronto, bagunça feita na minha
cabeça; “cesse tudo o que a antiga musa canta, que outro valor, mais alto, se
alevanta”. Espera aí, mais devagar para eu compreender: então, não são os genes
os únicos responsáveis pelos mecanismos de controle da vida, mas esta tal “consciência
celular” é que o são? Ou seja, o ambiente ao meu redor tem fundamental
influência nos mecanismos que controlam a minha vida? Lamarck tinha razão, com
sua lei dos usos e desusos e a tese dos caracteres adquiridos? A tese de Carl
Gustav Jung, do Inconsciente Coletivo, tem maior alcance do que eu poderia
supor? Augusto Comte, com sua premissa de que “o homem é produto do meio” mereceria
ser revista?
Confesso, leitor amigo, meu cérebro
deu um nó. E a aparente doidice deste cientista continua um pouco depois,
quando ele conclui:
“Fiquei extasiado com a ideia de poder alterar meu destino modificando minhas crenças. O simples fato de perceber que este novo ramo da ciência poderia me fazer passar de mera “vítima” a “cocriador” trouxe-me grande alívio.” (página 18)
Lipton nos conta, nesta época ele
era completamente ateu, seguindo a corrente mais tradicional dos cientistas. Citando
o lema da profissão desde a época de Charles Darwin, diz: “Deus? Não precisamos
de um Deus”. O acaso e não qualquer intervenção divina é o verdadeiro
responsável pela vida na Terra. E, sempre segundo Bruce Lipton, os cientistas
acreditaram tanto na ideia darwiniana de que as características individuais são
passadas aos descendentes pelos genes, que se lançaram numa busca frenética pela
decifração do genoma humano.
Mapa genético humano concluído,
resultou na decepção – ou, numa verificação incômoda. A complexidade e a
diversidade dos seres não podiam ser explicadas pela cadeia de genes, muito
simples diante da grandeza e riqueza da vida:
“O verme primitivo Caenorhabditis serve de modelo perfeito para o estudo do papel dos genes no desenvolvimento e no comportamento dos seres. É um organismo que cresce e se desenvolve com muita rapidez, tem um corpo de padrão preciso composto de exatamente 969 células e um cérebro muito simples de 302 células. No entanto, apresenta um repertório único de comportamento e é bastante dócil para o trabalho em laboratório. Tem aproximadamente 24 mi genes (Blaxter, 2003). O corpo humano, composto de mais de 50 trilhões de células, contém apenas 1500 genes a mais que este microscópico e humilde ser.
A mosca-das-frutas, outro espécime preferido dos cientistas para este tipo de estudo, possui 15 mil genes (Blaxter, 2003; Celniker et al., 2002). Portanto, esta pequena mosca, de organismo muito mais complexo, tem nove mil genes a menos que o primeiro verme Caenorhabditis. E quando se trata de comparar homens e ratos a situação é ainda mais crítica. Teremos de passar a tratá-los com mais dignidade, pois os resultados dos projetos genoma paralelos revelam que humanos e roedores têm aproximadamente o mesmo número de genes!” (páginas 78/79)
Sob o título jocoso A Nova Física: Como Plantar Firmemente Os
Pés no Ar, Lipton nos traz uma complexa relação entre biologia e física
(quântica).
“Se fosse possível observar a composição de um átomo por meio de um microscópio, o que veríamos? Imagine um vórtice de energia girando e se movendo na areia do deserto. Agora remova a areia. O que sobra é apenas um tornado invisível. Um átomo nada mais é que um conjunto desses vórtices microscópicos. Se observado de longe, parece uma esfera embaçada. À medida que aproximamos o foco, a imagem se torna cada vez mais indefinida até desaparecer totalmente. Na prática, o átomo é invisível. Quando se observa sua estrutura, o que se vê é apenas vácuo. Não há matéria física. Surpreso?” (página 119)
E se não há matéria física, de que
biologia estamos falando? Somos feitos de átomos tanto quanto qualquer ser vivo
ou mais ainda, tudo o que existe. Mas, se a matéria é uma ilusão, como pregam
várias religiões, precisamos ir mais fundo, além das moléculas. Problemas de
comunicação (interação) subatômica podem gerar complicações celulares e, por
conseguinte, resultar em órgãos doentes e em seres com problemas.
A
Biologia da Crença leva esta característica holística às últimas consequências,
ao citar a Teoria de Gaia, de James Lovelock. Segundo esta hipótese, a Terra é
um organismo vivo e interativo, em que o equilíbrio macro é feito pelo
equilíbrio micro. Ou seja, seríamos todos os seres como células compondo o
organismo maior – a Terra:
“Estudos recentes do Conselho Britânico de Pesquisas do Meio Ambiente [Britain’s Natural Research Council] confirmam essa possibilidade (Thomas et al., 2004; Stevens et al., 2004). Embora já tenha havido cinco extinções em massa na história de nosso planeta, todas parecem ter sido causadas por eventos extraterrestres, como um cometa que se chocou contra ele. Um dos novos estudos conclui que o ‘o mundo natural está passando pela sexta extinção’ (Lovell, 2004). Mas desta vez o motivo não vem de fora. Segundo Jeremy Thomas, um dos autores desse estudo, “ esta extinção está sendo causada por um organismo animal: o homem.” (página 58)
Seguindo esta linha de raciocínio,
a de que o meio ambiente exerce forte influência sobre o mecanismo de nossas
vidas, Bruce Lipton defende a paternidade responsável, dizendo que o homem,
tanto quanto a mulher, é fundamentalmente responsável pela vida que gera. E mais,
dá um verdadeiro nocaute na concepção de que criamos nossos filhos de modo
igual. Na verdade – nos diz ele – estando o mundo em constante evolução,
criamos nossos filhos, cada um de uma maneira um pouco diferente, em reação ao
mundo diferente.
Ele cita estudos em que crianças
criadas em orfanatos, bem alimentadas e fisicamente bem cuidadas, apresentam
problemas ainda assim, pela falta da afetividade. Isto é real, a falta de amor
resulta em dificuldades orgânicas.
Como disse no início, este A Biologia da Crença é um livro interessante
de se ler. Pelo menos, isso. Você pode não acreditar em nada do que este doutor
Lipton está dizendo. Pode chamá-lo de charlatão, é bem fácil fazer isto. No entanto,
a força dos seus argumentos, a propriedade de suas ponderações, o domínio do
assunto, apoiado em pesquisa de outros cientistas que, isoladamente chegaram a
conclusões intrigantes me fizeram pensar.
Buce H. Lipton não é uma voz
solitária. Há vários cientistas que trabalham, hoje, numa linha mais holística.
Velhos conceitos estão sendo sacudidos e revisitados; acreditava-se, há algum
tempo, que a física quântica viria invalidar por completo e velha física
mecânica ou newtoniana. Nada mais apressado.
A física mecânica continua válida
para macro estruturas, os planetas continuam girando em suas órbitas previstas.
Entretanto, a grande revolução ainda não totalmente compreendida está
exatamente nas micro estruturas; aí é o reino da física quântica.
Aprendendo sempre, algo que eu já havia
me perguntado sem direcionar pesquisa, é se pessoas com transplantes de coração
sofreriam algum tipo de mudança comportamental. A resposta é sim, de acordo com
estudos apresentados por Lipton. Ele cita o caso de Claire Sylvia, da Nova
Inglaterra. Ela recebeu um coração novo e depois de algum tempo, apresentou
mudanças: começou a gostar de nuggets,
cerveja, frango e motocicletas, exatamente como o dono anterior do órgão
transplantado. Isto permite a Lipton reforçar sua tese de “memória celular”.
Desta forma, caminhar para uma
visão espiritualista, como o fez Bruce Harold Lipton é uma forte possibilidade.
Vejamos como explica esta “espiritualidade a partir da ciência”:
“Você e eu somos ‘residentes da Terra’ e recebemos informações de uma grande central de controle técnico-espiritual. As experiências que adquirimos durante a vida são enviadas a essa central, nosso espírito. Portanto, a maneira como você vive influencia diretamente as características de seu “eu”. Essa interação corresponde ao conceito de carma. Quando compreendemos isso, passamos a prestar mais atenção à maneira que vivemos neste planeta, pois as consequências de nossos atos se prolongam além da existência de nosso corpo. Tudo o que fazemos tem consequências que podem nos afetar hoje ou mesmo a uma versão futura do nosso ser.” (página 232)
A consciência holística, ou seja, a
de que fazemos parte de um grande conjunto, dentro da complexidade da vida –
complexidade esta que vem cada vez mais aumentando, à medida que sabemos mais –
vai se estabelecendo aos poucos.
Estou entre aqueles que considera
este livro como muito importante. Você poderá dizer, “ah, é porque você é
espiritualista, acredita nessa coisa da preponderância do espírito sobre a
matéria”. É verdade, você estará com a razão. Espiritualidade é algo muito
forte em minha formação e não poderia jogá-la fora. A Biologia da Crença traz reforços importantes à minha forma de
sentir/ser.
Recentes estudos científicos
afirmam que aquele paciente que acredita em alguma forma de espiritualidade se
recupera mais depressa e melhor do que aquele que não acredita em nada. Os cientistas
dão seu parecer, o cérebro humano é programado para crer em algo.
Ou, talvez, estejamos à beira de
descobrir, há mesmo uma complexidade tão grande que, para existirmos, somos
seres além da matéria. A Teoria das Cordas e a existência de multiversos nos
trazem maravilhosos questionamentos, intensos desafios à nossa inteligência.
Está dada a partida. Leia, meu caro
leitor, este A Biologia da Crença. Seja
livre para considerar tudo o que está escrito como obra de ficção, esforço
intelectual de um homem para apreender a Vida em sua complexa realidade, ou uma
síntese para a qual a ciência deve caminhar. O livro é instigante.