Um blogue de quem gosta de ler, para quem gosta de ler.

domingo, 30 de abril de 2023

Resenha nº 203 - A Última Livraria de Londres, de Madeline Martin

 

 

 



Título original: The Last Bookshop in London

Autora: Madeline Martin

Tradutora:Simone Reisner

Editora: Arqueiro

Edição: s/n

Copyright: 2021

ISBN: 978-65-5565-328-1

Gênero Literário: Romance

Origem: Literatura americana

 

Madeline Martin escreve ficção histórica e já possui vários livros entre os mais vendidos, segundo a lista do The New York Times. Ela reside na cidade de Jacksonville, Florida. Madeline é graduada pelo Flagler College em Administração Comercial. Seus hobbies incluem escalada em montanhas, corrida.

Após viver na Europa por mais de uma década, Madeline gosta de empreender viagens internacionais sempre que pode. Seu lugar favorito para visitar: Escócia. Escrever sempre foi sua paixão desde que ela era uma criança e agora, ela finalmente consegue a realização do seu sonho.

Este A Última Livraria de Londres é um best-seller. Apesar de o subtítulo dizer tratar-se de “Um romance sobre a Segunda Guerra Mundial”, a meu ver, isto é meia-verdade. Trata-se, mais especificamente, de um romance sobre o amor pelos livros e por certa livraria na cidade de Londres. A ambientação é a Segunda Guerra Mundial, mas a narrativa faz apenas pequenas referências às batalhas.

É um best-seller menos usual, pois envereda-se por reconstituição histórica inglesa e cita vários clássicos da literatura. Tive a paciência de anotá-los e cheguei à seguinte lista de citações: O Conde de Montecristo, de Alexandre Dumas; Emma, de Jane Austen; Mein Kampf, de Hitler; What Hitler Wants, de Léon Trotsky; Frankenstein, de Mary Shelly; As Ondas, de Virgínia Woolf; Um Conto de Natal e Um Conto de Duas Cidades, As Aventuras do Sr. Pickwick, todos três de Charles Dickens; A Odisseia, de Homero; Jane Eyre, de Charlotte Brontë; O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald; Middlemarch, de George Eliot; A Feira de Vaidades, de William Makepeace Thackery; Entre O Amor e O Pecado, de Kathleen Winsor; Rebeca, de Daphne du Maurier.

“Grace Bennet sempre sonhou em morar em Londres. Mas jamais poderia imaginar que essa se tornaria sua única opção, ainda mais às vésperas de uma guerra.

O trem parou na estação Farringdon, que tinha o nome claramente sinalizado na parede, em uma faixa azul sobre um círculo vermelho. Várias pessoas aguardavam na plataforma, ansiosas para entrar, enquanto outras tantas ansiavam por sair. Vestiam roupas bem-feitas, seguindo o estilo elegante da vida na cidade. Muito mais sofisticadas do que em Drayton, no condado de Norfolk.” (página 7)

Grace e Viv – duas amigas de infância e residentes no condado de Norfolk, Inglaterra, resolvem, então, se mudar para a grande Londres. Grace, a bem da verdade, praticamente nada deixa para trás; apenas um tio seco e egoísta, que se nega a dar a ela uma carta de recomendação.

Quanto a Viv, ela também não possui uma carta de recomendação, mas não tem pruridos em forjar uma. Fake news, já naquela época...

As duas vão viver na casa da velhinha, a Sra. Weatherford. Esta senhora era amiga da mãe de Grace e fica feliz em receber as duas. Viv vem com a pretensão de trabalhar numa grande loja de departamentos, enquanto Grace ainda não tem nada certo.

A Sra. Weatherford resolve consertar esta falha do destino. Encaminha a filha de sua amiga a uma livraria antiga, em Londres, a Primerose Hill, de propriedade do Sr. Evans. A primeira impressão da livraria não é nada agradável para Grace:

“ Havia um cheiro de mofo no ar, misturado com um odor parecido com o de lã molhada. Camadas de poeira nas estantes indicavam que grande parte do estoque não era tocada havia um bom tempo, e pilhas de livros no chão arranhado de madeira davam ao cenário uma sensação de desordem. Esse efeito era intensificado por um balcão à direita, coberto com o que pareciam ser contas amontoadas ao acaso em meio a um caótico mar de tocos de lápis.” (página 20)

E, quando ela se apresenta como enviada pela Sra. Weatherford para trabalhar ali, ele simplesmente lhe responde não precisar de ninguém. E aí, nós, leitores, sentimos certa antipatia pelo Sr. Evans. Velho chato, solitário, ranzinza e acomodado.

Simplificando, por nova intervenção da sua protetora, Grace acaba sendo admitida na livraria. Entretanto, há dificuldade no seu novo trabalho: ela nunca foi muito dada a leituras e a livros e praticamente, não conhece título algum.

Como disse, o pano de fundo deste A Última Livraria de Londres é a Segunda Guerra Mundial. Este conflito mundial ainda não é uma ameaça real para os ingleses, mas eles tomam seus cuidados. Por exemplo, instalam sirenes de emergência por toda a cidade e os pais, amedrontados, começam a mandar seus filhos para o interior, onde a possibilidade de ataque alemão é sensivelmente menor. Nos quintais das casas, vão sendo construídos abrigos antibomba.

Grace segue sua vida, até que, em determinado dia, entra na livraria o Sr. Anderson:

“Os olhos de Grace passaram rapidamente pelas lombadas de vários livros. Mas eles não seguiam qualquer ordem de colocação, nem por título, nem por nome do autor, nem pela cor da capa.

— Se me der licença... – disse uma voz masculina atrás de Grace.

Ela se sobressaltou e viu um homem alto, usando um paletó cinza feito sob medida, os cabelos pretos bem penteados para o lado. Ela já o havia notado mais cedo. Afinal, que mulher não notaria um sujeito assim, tão bonito? Mas isso fora há algum tempo e ela achou que ele já houvesse saído da loja.” (página 31)

E é este Sr. George Anderson que desperta em Grace o amor (não só) pelos livros. Presenteia-a com uma edição capa dura do clássico de Alexandre Dumas, O Conde de Montecristo. Pouco depois, ele sai de cena por um tempo, pois é piloto da RAF – Royal Air Force e tem de combater no front em guerra, assim como Colin – o gentil filho da Sra. Weatherford.

A cada dia, o clima da cidade vai se tornando mais tenso. Logo vem a notícia pior possível, Hitler tomou a França. Logo, pelo raciocínio dos citadinos, a próxima etapa será Hitler atacar a Inglaterra. Do ponto de vista da política interna, as coisas também não vão nada bem.

No rádio, a voz do Primeiro-Ministro Chamberlain se faz ouvir, mas logo a Polônia cai sob o domínio alemão e a política pacifista do Ministro vai por terra e ele pede demissão. Neste ponto, já é evidente que a Inglaterra passará maus momentos. No lugar do político demissionário, entra Winston Churchill.

Grace e Viv não conseguem se manter isentas, nesta comoção que a todos marca. Viv deixa seu emprego na Harod’s e se alista na SVM – Serviço Voluntário de Mulheres, assessorando militarmente o exército inglês. Grace participa da ARP – Air Raid Precautions (Precauções Contra Ataques Aéreos), enquanto continua trabalhando na Primerose Hill.

O blecaute se instala em Londres. Bombas são jogadas sobre a cidade e o trabalho da ARP é garantir que o blecaute seja respeitado pela própria população. Além disso, seus membros ajudam no combate aos incêndios e socorro imediato aos feridos pelos ataques.

Chegamos aqui e não desejo cometer spoilers. Dramas acontecem, numa história cujo pano de fundo seja a Segunda Guerra Mundial não se pode escapar de eventos assim, se o autor quiser manter a verossimilhança. Claro, um romance histórico não tem de obedecer aos chamados “fatos históricos”, há licença para ficcioná-los pelo bom andamento do romance.

Por que o autor deste blog se decidiu ler um livro destes, que não é muito o seu habitual? Eu diria, amigo que me lê, por dois motivos. Primeiro, ele foi lido na praia. Como leitura de praia, funcionou muito bem, mas eu desejava descansar, sem leituras profundas e cheias de filosofia. Penso, este livro tem certo parentesco com 84 Charing Cross Street (título em português, Nunca te vi sempre te amei), de Helene Hanff, A Livraria Mágica de Paris, de Nina George, e mesmo A Sociedade Literária e A Torta de Casca de Batata, de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows.

Não há qualquer preconceito em se ler best-sellers. São livros leves, leituras agradáveis. Afinal, há livros para todas as ocasiões e pessoas. Leituras pouco densas, leituras profundas. Nem todo mundo se dispõe a ler Ulisses, de James Joyce. Eu ainda não me aventurei.

Segundo motivo, uma narrativa, mesmo mais convencional, sobre livros e livrarias me atrai bastante. É muito bom ler algo sobre aquilo que amamos tanto, não? Não só leitura: consumo também filmes com esta temática. Só de ter, na sinopse, o envolvimento de um escritor ou escritora na trama, já é meio caminho andado para eu me dispor a assistir.