Título em português: Os Sete Enforcados
Autor: Leonid Andreiev
Tradutor: Eliana Sabino
Editora: Rocco
Edição: n/c
Copyright: 1987
ISBN: 978-85-7980-069-6
Coleção Novelas Imortais (org. Fernando Sabino)
Gênero literário: Novela
Literatura Russa
Bibliografia do autor: Abismo, O
(Abyss); Amor ao próximo, O (Love to Neighbor); Bargamot e Garaska (Bargamot
and Garaska); Ben-Tovit (Ben-Tovit); Conversão do diabo, A (Satan’s Conversion);
Cristãos (Christians); Diário de Satanás, O (Satan’s Diary); Dois mundos (Two
Worlds); Era uma vez (Once Upon a Time); Espectros, Os (Spectra); Estrangeiro,
Um (A Foreigner); Flor pisada, A / Flor espezinhada, Uma (The Crushed Flower); Gigante,
O (The Giant); Governador, O (The Governor); Grande slam, O / Grand “cheleme”,
O (The Grand Slam) ; Homem original, Um (An Unique Man); Ideia, A /
Loucura? / Médico louco, O / Pensamento; O – novela (Thought - novel); Judas
Iscariotes (Judas Iscariot); Juventude (Youth); Lázaro / História de Lázaro
(Lazarus); "Marselhesa", A (The “Marseillaise”) Máscara, A (The Mask) ;
Mentira - memórias de um louco, A (The Lie – memoirs of a mad man); Mistério, O
(Mistery); Muro, O (The Wall); Nada, O / Repouso, O (Nothing); Pensamento, O
(peça) (Thought - play); Perante o tribunal (In the Court); Por trás da janela
(Behind the Window);
Retorno, O (The Return); Riso, O
(Laugh); Riso vermelho, O / Gargalhada vermelha, A (Red Laugh); Sete
enforcados, Os / História dos Sete Enforcados (The Seven Who Were Hanged); Silêncio
(Silence); Sobremortal (Super-mortal); Vadio (Bummer); Valia (Valia).
Leonid Nicolaevitch Andreiev
nasceu em Oriol, Império Russo, em 09/08/1871 e faleceu em Kaokkala, Finlândia,
em 12/09/1919. Andreiev é considerado o mais sombrio dos novelistas russos. Até
os trinta anos, teve uma vida bem humilde e difícil, chegando a passar fome e tentou o suicídio, só não levado a termo por ter sido socorrido a
tempo. Conforme consta, ainda em convalescencia, no hospital, arrependeu-se do
ato e passou a refletir sobre a incapacidade de o homem sobrepor-se ao seu próprio destino.
Tais fatos não poderiam passar
batidos e sua literatura se ressente da visão pessimista, trabalhando sempre
com a tragédia a que se submetem seus personagens. Andreiev adquire prestígio
a partir do século XX, mas o escritor não é muito difundido no Brasil.
Os Sete Enforcados é uma releitura. Li-a há muito anos atrás, mas
me lembrava de muitos pontos da novela, prova de que realmente o livro me
marcara. Era uma péssima edição de bolso, em papel de baixa qualidade e
amarelecido. Esta edição que tenho em mãos é parte de uma coleção de Novelas
Imortais, organizada e prefaciada pelo escritor mineiro Fernando Sabino. Os
títulos da seleção: Margot, de Alfred de Musset; O Monge Negro, de Anton
Tchekhov; O Homem de Areia, de E. T. A. Hoffman; Sílvia, de Gérard de Nerval;
Um Coração Singelo, de Gustave Flaubert; A Fera na Selva, de Henry James;
Bartleby, O Escriturário, de Herman Melville; Os Sete Enforcados, de Leonid
Andreiev; A Espanhola Inglesa, de Miguel de Cervantes Saavedra e O Clube dos
Suicidas, de Robert Louis Stevenson.
Cinco terroristas vão atentar
contra a vida de um ministro. São descobertos e presos, levados a julgamento e
condenados à morte por enforcamento. São eles: Sergey Golovin, filho de um
coronel reformado; Musya, jovem e idealista; Vasily Kashirin, segundo seu
passaporte, contava com vinte e três anos; Tanya Kovalchuck, na casa de quem
foram encontradas bombas e dinamite; Werner, de quem não se sabia muito.
A estes irão se juntar, também
para serem enforcados, Ivan Yanson, que assassinara seu patrão e, finalmente,
Mikhail Golubetz, apelidado Tsiganok (Cigano), cujos crimes mais recentes eram
assalto à mão armada e assassinato de três pessoas.
Os Sete Enforcados é um texto enxuto, conciso, como convém a uma
novela. Estes sete condenados, cada um a seu turno, lidam com a ideia da morte
de uma determinada maneira, mas, pela boca do Ministro, a tese advogada no
livro é
“E aqueles imbecis me informaram a hora precisa, achando que eu ficaria muito feliz em saber. Mas em vez disso a Morte postou-se a um canto sem poder ir embora. Não podia porque estava dentro da minha cabeça. Não é a morte que é horrível, mas o conhecimento dela: ninguém conseguiria viver sabendo definitivamente o dia e a hora exatos de sua morte. E os imbecis me avisam: ‘À uma hora, Excelência!” (página 24/25, grifos nossos)
Será o personagem Yanson quem
dará corporeidade à tese também defendida pelo Ministro, como fica claro no
seguinte trecho:
“Pediu, implorou que o sol brilhasse, mas a noite estendeu sem remorso suas horas longas e escuras por sobre a terra, e não havia poder que apressasse o seu curso. E essa impossibilidade, que pela primeira vez apresentava-se ao fraco entendimento de Yanson, enchia-o de terror. Ainda sem ousar entende-la claramente, ele já sentia a inevitabilidade da morte próxima; os pés dormentes pareciam pisar o patíbulo” (página 54)
Outro trecho profundamente
subversivo vai saltar das páginas do livro, a certa altura:
“Isto é que é importante: que eles fossem milhares. Quando milhares matam um só, isso significa que foi esse um quem venceu. É verdade, Werner, meu querido...”(palavras de Musya a Werner, na página 96).
Os Sete Enforcados configura-se como um libelo contra a truculência
do estado-assassino, contra a pena de morte. A personagem principal? Não, não
está entre os terroristas; também não é Yanson, nem Tsiganok; o protagonista é
a morte. É ela que todos buscam entender, é ela quem paira sobre o destino de
todos os outros personagens, sem que eles possam, de algum modo, alterar seus
pobres destinos.
Leonid Andreiev é sombrio,
pessimista, desesperançado. Seu texto reflete este estado de alma, mas não
deixa de ser filosófico, às vezes, e até mesmo lírico, como vimos pelos trechos
transcritos acima. “Ele quer me amedrontar, mas eu não tenho medo”, teria dito
ninguém menos que Tolstoi. Não seria demais, creio, anotar aqui algo da
morbidez de Edgar Allan Poe.
Os Sete Enforcados é um livro pequeno, são cento e sessenta e sete
páginas nesta edição da Rocco. Feita como
porta de motivação para jovens conhecerem obras significativas de vários
autores, o texto flui maravilhosamente bem. Todos os volumes desta coleção são
de textos curtos e fáceis de ler – do ponto de vista do vocabulário empregado. Mas,
sinceramente, não sei se serão muitos os jovens a suportar um texto tão denso
de significados. É preciso ter estômago para ler o livro.
Independente disto, é uma
obra-prima da narrativa mundial. Breve e certeiro. Um livro, como diria o
blogueiro-livreiro Luiz Guilherme de Beaurepaire, em seu blogue Bons Livros Para Ler,“um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.”
Creio valer a pena encerrar esta
resenha com o depoimento do próprio Leonid Andreiev à edição americana, que
consta deste opúsculo:
“Os massacres dos judeus e a fome; um Parlamento e execuções, saques e o maior heroísmo; A Centena Negra e Léon Tolstoi – que mistura de figuras e conceitos, que fonte fecunda de todo tipo de equívocos! A verdade da vida silencia, consternada, e a falsidade atrevida grita bem alto perguntas urgentes e dolorosas: “Com quem serei solidário? Em quem confiarei? A quem amarei?”
Na história de Os Sete Enforcados tentei dar uma resposta sincera e sem preconceitos a algumas dessas perguntas.” (página 12, sem numeração)