Autor: Vários
Editora: Dublinense/TAG Livros
Edição especial
Organizadores: Helena Terra e Luiz Ruffato
ISBN: 978-85-8318-092-0
Gênero: Coletânea de Contos
Literatura Brasileira
A TAG Livros (em parceria com a editora Dublinense, de Porto Alegre) brindou a seus assinantes, entre os quais me incluo, em julho de 2017,
com uma edição especial. Trata-se de uma coletânea de contos com uma
particularidade muito interessante, que rendeu bons trabalhos.
Foram selecionados oito autores e
dez contos; escritores convidados deveriam escrever suas versões destes
trabalhos. Assim, constam da obra: Ernest Hemingway, com Fim de algo; James Joyce, Eveline;
Clarice Lispector, Os desastres de Sofia;
Monteiro Lobato, Negrinha; Katherine
Mansfield, Marriage à la mode; Guy de
Maupassant, O colar; Liev Tolstoi, Depois do baile e, finalmente, Machado
de Assis, com três contos selecionados, A
teoria do medalhão, Pai contra mãe
e Um homem célebre.
Os escritores convidados produziram
suas releituras dos trabalhos originais. Seguindo a mesma ordem de autores
originais acima: Luiz Antônio de Assis Brasil, Início de alguma coisa (imitando Hemingway); Beatriz Bracher, A morte da mãe; Eliane Brum, Simplício; Ana Maria Gonçalves, Negrinha! Negrinha! Negrinha!; Ivana
Arruda Leite, A rainha das fadas;
Maria Valéria Resende, Um simples engano;
Cristovão Tezza, O herói da sombra e,
ao final e ao cabo, Milton Hatoun, O
futuro político (primeiro ato); Paulo Lins, Pipa Sande; José Luís Peixoto, Um
homem célebre.
Experiência muito enriquecedora
para os leitores e, acredito, também para os escritores que produziram novos
contos a partir dos originais, este Uns e Outros – Contos Espelhados mostram um
pouco, ou talvez de maneira concentrada, aquilo com que escritores sempre
trabalharam: a intertextualidade.
A palavra foi cunhada por Julia
Kristeva, linguista estruturalista belga – também realizando trabalhos na linha
da Teoria Literária, Semiótica, psicanálise, biografia e autobiografia. Por ela,
entende-se toda e qualquer criação de um novo texto a partir de outro,
pré-existente. Podemos dar um exemplo de intertextualidade que ficou famoso: os
famosos Sherlock Holmes e Dr. Watson, personagens de Sir Arthur Conan Doyle,
nas histórias de detetive Holmes foram utilizados para criar Guilherme de
Baskerville e Adso de Melk, em O nome da rosa,
de Umberto Eco.
Aliás, talvez os personagens mais
copiados de todos os tempos, verdadeiros ícones de nossa cultura literária
ocidental sejam o fidalgo Dom Quixote, montado em seu pangaré Rocinante,
seguido do fiel escudeiro, Sancho Pança, por sua vez, cavalgando um burrico. Seres
histriônicos por excelência, serão retomados por muitas e muitas vezes.
A turma que compõe Uns e Outros é, como se pode ver, de
peso. Tanto os dos originais, quanto os contemporâneos. É mais que uma leitura
prazerosa (pelo menos o foi para mim), é ilustradora do que pode fazer o
talento de nossos escritores brasileiros – e até de um autor português, o José
Luís Peixoto.
De acordo com o prefácio do
livro, os autores contemporâneos foram
“Investidos de total liberdade para a escolha do escritor e do conto clássico com quem queriam dialogar, à sua maneira, dentro de seus respectivos estilos, com suas particulares vozes e visões de mundo, os dez formaram pares com Machado de Assis, Ernest Hemingway, James Joyce, Clarice Lispector, Monteiro Lobato, Katherine Mansfield, Guy de Maupassant e Liev Tolstoi.” (páginas 12/13)
Não se trata, obviamente, de exercício
de cópia; os contemporâneos leram os contos originais e a partir destes
produziram novos contos, seguindo a mesma temática, mas impondo suas marcas
autorais, seu enredo, seus personagens.
Uma última palavra a Uns e Outros
– Contos Espelhados: a edição está muito bem cuidada e é muito bonita. Feita com
capricho. Espero que dentro de algum tempo, ela esteja em edição aberta ao
público em geral.
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