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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Resenha nº 112 - Os Sete Enforcados, de Leonid Andreiev

Resultado de imagem para livro os sete enforcadosTítulo original: Rasskag O Semi Poveshnnikh
Título em português: Os Sete Enforcados
Autor: Leonid Andreiev
Tradutor: Eliana Sabino
Editora: Rocco
Edição: n/c
Copyright: 1987
ISBN: 978-85-7980-069-6
Coleção Novelas Imortais (org. Fernando Sabino)
Gênero literário: Novela
Literatura Russa
Bibliografia do autor: Abismo, O (Abyss); Amor ao próximo, O (Love to Neighbor); Bargamot e Garaska (Bargamot and Garaska); Ben-Tovit (Ben-Tovit); Conversão do diabo, A (Satan’s Conversion); Cristãos (Christians); Diário de Satanás, O (Satan’s Diary); Dois mundos (Two Worlds); Era uma vez (Once Upon a Time); Espectros, Os (Spectra); Estrangeiro, Um (A Foreigner); Flor pisada, A / Flor espezinhada, Uma (The Crushed Flower); Gigante, O (The Giant); Governador, O (The Governor); Grande slam, O / Grand “cheleme”, O (The Grand Slam) ; Homem original, Um (An Unique Man); Ideia, A / Loucura? / Médico louco, O / Pensamento; O – novela (Thought - novel); Judas Iscariotes (Judas Iscariot); Juventude (Youth); Lázaro / História de Lázaro (Lazarus); "Marselhesa", A (The “Marseillaise”) Máscara, A (The Mask) ; Mentira - memórias de um louco, A (The Lie – memoirs of a mad man); Mistério, O (Mistery); Muro, O (The Wall); Nada, O / Repouso, O (Nothing); Pensamento, O (peça) (Thought - play); Perante o tribunal (In the Court); Por trás da janela (Behind the Window);
Retorno, O (The Return); Riso, O (Laugh); Riso vermelho, O / Gargalhada vermelha, A (Red Laugh); Sete enforcados, Os / História dos Sete Enforcados (The Seven Who Were Hanged); Silêncio (Silence); Sobremortal (Super-mortal); Vadio (Bummer); Valia (Valia). 

Leonid Nicolaevitch Andreiev nasceu em Oriol, Império Russo, em 09/08/1871 e faleceu em Kaokkala, Finlândia, em 12/09/1919. Andreiev é considerado o mais sombrio dos novelistas russos. Até os trinta anos, teve uma vida bem humilde e difícil, chegando a passar fome e tentou o suicídio, só não levado a termo por ter sido socorrido a tempo. Conforme consta, ainda em convalescencia, no hospital, arrependeu-se do ato e passou a refletir sobre a incapacidade de o homem sobrepor-se ao seu próprio destino.
Tais fatos não poderiam passar batidos e sua literatura se ressente da visão pessimista, trabalhando sempre com a tragédia a que se submetem seus personagens. Andreiev adquire prestígio a partir do século XX, mas o escritor não é muito difundido no Brasil.
Os Sete Enforcados é uma releitura. Li-a há muito anos atrás, mas me lembrava de muitos pontos da novela, prova de que realmente o livro me marcara. Era uma péssima edição de bolso, em papel de baixa qualidade e amarelecido. Esta edição que tenho em mãos é parte de uma coleção de Novelas Imortais, organizada e prefaciada pelo escritor mineiro Fernando Sabino. Os títulos da seleção: Margot, de Alfred de Musset; O Monge Negro, de Anton Tchekhov; O Homem de Areia, de E. T. A. Hoffman; Sílvia, de Gérard de Nerval; Um Coração Singelo, de Gustave Flaubert; A Fera na Selva, de Henry James; Bartleby, O Escriturário, de Herman Melville; Os Sete Enforcados, de Leonid Andreiev; A Espanhola Inglesa, de Miguel de Cervantes Saavedra e O Clube dos Suicidas, de Robert Louis Stevenson.
Cinco terroristas vão atentar contra a vida de um ministro. São descobertos e presos, levados a julgamento e condenados à morte por enforcamento. São eles: Sergey Golovin, filho de um coronel reformado; Musya, jovem e idealista; Vasily Kashirin, segundo seu passaporte, contava com vinte e três anos; Tanya Kovalchuck, na casa de quem foram encontradas bombas e dinamite; Werner, de quem não se sabia muito.
A estes irão se juntar, também para serem enforcados, Ivan Yanson, que assassinara seu patrão e, finalmente, Mikhail Golubetz, apelidado Tsiganok (Cigano), cujos crimes mais recentes eram assalto à mão armada e assassinato de três pessoas.
Os Sete Enforcados é um texto enxuto, conciso, como convém a uma novela. Estes sete condenados, cada um a seu turno, lidam com a ideia da morte de uma determinada maneira, mas, pela boca do Ministro, a tese advogada no livro é
“E aqueles imbecis me informaram a hora precisa, achando que eu ficaria muito feliz em saber. Mas em vez disso a Morte postou-se a um canto sem poder ir embora. Não podia porque estava dentro da minha cabeça. Não é a morte que é horrível, mas o conhecimento dela: ninguém conseguiria viver sabendo definitivamente o dia e a hora exatos de sua morte. E os imbecis me avisam: ‘À uma hora, Excelência!” (página 24/25, grifos nossos)
Será o personagem Yanson quem dará corporeidade à tese também defendida pelo Ministro, como fica claro no seguinte trecho:
“Pediu, implorou que o sol brilhasse, mas a noite estendeu sem remorso suas horas longas e escuras por sobre a terra, e não havia poder que apressasse o seu curso. E essa impossibilidade, que pela primeira vez apresentava-se ao fraco entendimento de Yanson, enchia-o de terror. Ainda sem ousar entende-la claramente, ele já sentia a inevitabilidade da morte próxima; os pés dormentes pareciam pisar o patíbulo” (página 54)
Outro trecho profundamente subversivo vai saltar das páginas do livro, a certa altura:
“Isto é que é importante: que eles fossem milhares. Quando milhares matam um só, isso significa que foi esse um quem venceu. É verdade, Werner, meu querido...”(palavras de Musya a Werner, na página 96).
Os Sete Enforcados configura-se como um libelo contra a truculência do estado-assassino, contra a pena de morte. A personagem principal? Não, não está entre os terroristas; também não é Yanson, nem Tsiganok; o protagonista é a morte. É ela que todos buscam entender, é ela quem paira sobre o destino de todos os outros personagens, sem que eles possam, de algum modo, alterar seus pobres destinos.
Leonid Andreiev é sombrio, pessimista, desesperançado. Seu texto reflete este estado de alma, mas não deixa de ser filosófico, às vezes, e até mesmo lírico, como vimos pelos trechos transcritos acima. “Ele quer me amedrontar, mas eu não tenho medo”, teria dito ninguém menos que Tolstoi. Não seria demais, creio, anotar aqui algo da morbidez de Edgar Allan Poe.
Os Sete Enforcados é um livro pequeno, são cento e sessenta e sete páginas nesta edição da Rocco.  Feita como porta de motivação para jovens conhecerem obras significativas de vários autores, o texto flui maravilhosamente bem. Todos os volumes desta coleção são de textos curtos e fáceis de ler – do ponto de vista do vocabulário empregado. Mas, sinceramente, não sei se serão muitos os jovens a suportar um texto tão denso de significados. É preciso ter estômago para ler o livro.
Independente disto, é uma obra-prima da narrativa mundial. Breve e certeiro. Um livro, como diria o blogueiro-livreiro Luiz Guilherme de Beaurepaire, em seu blogue Bons Livros Para Ler,“um livro que merece um lugar de destaque na sua estante.”
Creio valer a pena encerrar esta resenha com o depoimento do próprio Leonid Andreiev à edição americana, que consta deste opúsculo:
“Os massacres dos judeus e a fome; um Parlamento e execuções, saques e o maior heroísmo; A Centena Negra e Léon Tolstoi – que mistura de figuras e conceitos, que fonte fecunda de todo tipo de equívocos! A verdade da vida silencia, consternada, e a falsidade atrevida grita bem alto perguntas urgentes e dolorosas: “Com quem serei solidário? Em quem confiarei? A quem amarei?”

Na história de Os Sete Enforcados tentei dar uma resposta sincera e sem preconceitos a algumas dessas perguntas.” (página 12, sem numeração)

2 comentários:

celso da silva castro disse...

ótimo conto/novela , leitura profunda , profunda em sua reflexão sobre o que vem á ser morrer.
A edição também está muito bem feita pela Rocco .

Blog do Cleuber disse...

Oi, Celso. Na verdade, esta foi uma releitura de "Os sete enforcados". Tinha lido este livro há muitos anos, mas me lembrava de grande parte dele. Foi um prazer tomar novo contato com ele.