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terça-feira, 15 de abril de 2014

Resenha nº 36 - Todas As Histórias do Analista de Bagé, de Luís Fernando Verissimo

Se tu estás pê da vida com alguma coisa, se o tédio te visita com frequência, te abanque, índio velho, te aprochegue e marque uma consulta com o excelente analista de Bagé, no más! Lá estará, para receber-te, a Lindaura, recepcionista de comprovada eficiência, que, segundo palavras do próprio analista, “é como o trigo: lindo de se vê, mas só dá uma vez por ano.”

Todas as Histórias do Analista de Bagé, de Luis Fernando Verissimo é um pequeno grande livro sobre o personagem mais famoso do nosso cronista-humorista; sem dúvida, uma criação sua que caiu no gosto popular.

Profissional “levemente alucinado e com um repertório particular de expressões regionais”, prescreve tratamentos nada ortodoxos. Por exemplo, as angústias existenciais ele as cura com uma técnica peculiar: o joelhaço. Ele aguarda a distração do vivente e lhe aplica uma forte joelhada no saco escrotal, trazendo-o de volta à vida. Complexo de Édipo é com ele mesmo: acaba com o problema à base de goles de chimarrão; mania de perseguição é pura frescura. Já para os casos de frigidez feminina, o receituário prevê um bom amasso com o analista, de preferência no aconchego do pelego sobre o divã.

No começo de sua carreira, o analista de Bagé foi chamado no meio da noite para acudir um caso extremo: seu Vespasiano endoidara de vez e acreditava ser metade homem, metade cavalo. Tudo se resolveu numa inteligente argumentação: o analista revelou desconfiar que a parte de baixo do seu Vespasiano – a metade cavalo – lhe pertencia, era do cavalo castanho que lhe fugira.

- Quero ver a marca na anca. Se não tá marcado, é meu.

Seu Vespasiano recuperou a lucidez na hora.

Verissimo dispensa mais comentários. Dono de um texto leve, fluente, dominador do perfeito timing das piadas, é um autêntico sucesso e se enquadra no seleto grupo guindado à fama e reconhecimento praticando “apenas” textos curtos. Entretanto, saborosíssimos.

Pra lá de recomendado, conta até com um glossário das expressões originais, originalíssimas, do nosso querido analista. Na nota de número 22, temos a palavra “piguancha”. Seu significado? “Puta, mas no bom sentido”. Pode?

VERISSIMO, Luis Fernando. Todas as Histórias do Analista de Bagé. Editora Objetiva. Rio de Janeiro, RJ: 2002.

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