A saída de Paris para Milão começou complicada. No aeroporto francês de Orly surgiu um impasse: na hora de embarcar, já na fila, uma funcionária da empresa aérea nos comunicou que só poderíamos levar como bagagem de mão um volume, pois o avião era pequeno. Uma luta campal aconteceu, para enfiarmos máquina fotográfica, filmadora, as bolsas das mulheres e minha mochila em uma bolsa de mão. Contamos com a simpatia de alguns brasileiros que, não portando nada, se ofereceram para nos ajudar.
Resolvido o impasse pré-embarque, o voo de duas horas e quarenta e dois minutos foi tranquilo. Uma van nos esperava para o traslado ao hotel La Spezia. Chegamos cansados e famintos. Na recepção nos informaram haver próximos alguns restaurantes.
Saímos à rua. Realmente, existia um pequeno restaurante defronte ao hotel. Ele acabou se mostrando uma escolha acertada, pois fomos atendidos por uma brasileira, mineira de Lagoa Santa. O atendimento foi vip, ela foi para a cozinha e fez um arroz para o Ricardo e para mim. Mais tarde, depois de um tour que nos levou a tarde toda, voltamos ao hotel para um bom banho quentinho e voltamos para o restaurante. Ivonete – esse era o nome da atendente – nos preparara uma fornada de legítimo pão de queijo. Se vocês forem algum dia a Milão, não deixem de procurar o restaurante Slow Down, pequeno mas muito, muito simpático.
Milão é um centro da moda, além de ter um interessante centro histórico. Há uma bela praça, dominada pelo Duomo del Milano. O Duomo é todo construído em estilo gótico, com imponente fachada em puro mármore, com suas indefectíveis torres em agulhas apontando para o céu. À esquerda está a galeria Vittorio Emanuele II, a qual se atinge através de um belíssimo Arco do Triunfo. Lá se concentram as grandes griffes, como Prada, Hugo Boss, Louis Vuitton, Zara, Sephora.
Um pouco mais adiante, já fora do circuito da Piazza del Duomo, há uma outra praça, com a estátua de Leonardo da Vinci no centro, dando para a entrada do famosíssimo Teatro del Scala, de Milão. Sua fachada decepciona um pouco, após vermos tantos monumentos grandiosos. Entretanto, dizem, sua acústica é perfeita e o interior é riquíssimo, com veludos, cristais da Boêmia e lugares para 2015 pessoas sentadas. Como estava em temporada lírica, não pudemos entrar. A obra que estava sendo levada era Carmina Burana, de Carl Off.
O Palácio Sforzesco é outro lugar obrigatório para visitas. Está bem conservado, com belos jardins na parte dos fundos, que dão para o Arco da Paz (como os europeus gostam de Arcos!). A estada em Milão foi curta, durou apenas um dia e meio e não deu para vermos tudo. A cidade nos servia apenas como ponto de apoio, pois estávamos em trajeto, de ônibus, com destino a Veneza. Por ordem, após Veneza se seguirão Verona, Pádua, Pisa, Florença, Assis e, finalmente, Roma.
Quase cometo um pecado irreparável: ia prosseguindo essas notas de viagem sem comentar nada sobre o Musée du Louvre. É em si uma construção cheia de fatos históricos e prende-se ao passado parisiense. É o maior museu do mundo, com uma inigualável coleção de obras de arte entre as quais, sem dúvida, destaca-se a Monalisa, de Leonardo da Vinci, o gênio do Renascimento. Está protegida por grossos vidros à prova de bala, depois de um roubo da tela e de outras tentativas de danificá-la.
história à parte na história da capital. Arcobotantes são arcos que, partindo de estruturas que funcionam como contrafortes, dão sustentação às enormes paredes externas do altar-mor (veja na foto ao lado). É uma construção enorme, com um frontispício maior ainda, do qual se destacam as torres dos campanários. Altíssimas agulhas estão apontadas para o céu, como é de praxe no estilo gótico. Do alto dos seus beirais, grotescos gárgulas e quimeras nos fitam com olhares intimidadores.
Ali, lembrei-me do escritor francês Victor Hugo, em sua obra O Corcunda de Notre Dame. Lembrar Hugo na cidade-luz é sempre apropriado; seu maior romance, Les Misérables (Os Miseráveis, em português) se passa nas ruas de Paris, durante a Revolução Francesa. O bairro boêmio de Montmartre, onde, em 15/08/1534, na Capela de Saint-Denis nasceu a Companhia de Jesus (jesuítas), foi palco da intelectualidade parisiense. Uma dica: assista ao filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen.
Entretanto, existe uma Paris de ruas estreitas, cheias de agradáveis restaurantes, barezinhos, no Quartier Latin (Bairro Latino), edificado pelos romanos, quando estes tomaram a capital francesa. Lembrei-me de Asterix, heroi das revistas em quadrinho, e de sua turma de irredutíveis gauleses lutando contra as hostes romanas de Júlio César. O chefe gaulês Vercingentórix realmente existiu.