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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Resenha n° 11 - Estádio Independência, de Jairo Anatólio Lima

É um projeto muito interessante o BH. A cidade de cada um. De acordo com a orientação desses trabalhos, um autor é convidado para escrever algo sobre várias localidades de Belo Horizonte. Tal colcha de retalhos acaba nos dando uma visão deliciosa sobre nossa cidade. Não há compromisso com a pesquisa histórica; vale, de acordo com o explicitamente exposto, a memória afetiva. Este volume 3, dedicado ao Estádio Independência, traz crônicas saborosas de Jairo Anatólio Lima.

Jairo foi locutor e cronista esportivo; transmitiu mais de três mil partidas de futebol e cobriu sete Copas do Mundo. Uma pessoa assim terá muito o que contar sobre o que viu e ouviu nesses anos todos, pelos campos do Brasil afora. E, certamente, está gabaritado para nos conduzir num passeio temporal pelo Estádio do Horto.

E coisas curiosas vão aparecendo: as impressões sobre a partida Inglaterra e Estados Unidos, pela Copa do Mundo de 1950 – a mesma vencida pelo Uruguai e que nos maltrata a memória de brasileiros, até hoje.

Ele nos conta, por exemplo, que o clima popular era francamente favorável aos Estados Unidos, por causa da empáfia do ingleses; estes recusaram-se a ficar em Belo Horizonte, indo diretamente para as dependências da Mina de Morro Velho, em Nova Lima, que era dos ingleses. Contra toda as expectativas da crônica especializada da época, ganharam os Estados Unidos, de 1 X 0.

Bola Na Madrugada nos fala de uma incrível partida de futebol, disputada no Independência às duas horas da manhã:

“Pouca gente sabe  da história de um incrível jogo de futebol realizado às duas horas da madrugada no Estádio Independência. Talvez tenha sido caso virgem  na história do futebol, não só no campo do Sete de Setembro. Pois houve este jogo. Mais precisamente na madrugada do dia 21 de maio de 1969. Estava o país vivendo todo o clima do movimento militar que eclodira cinco anos antes. Censura, caça aos chamados ‘terroristas’, ‘subversivos’ e outras classificações. Mas todos  sabem o que é o jornalista, o cronista, o homem de rádio, o homem de televisão, o homem de jornal. […]  Lá pelas tantas,  já com a cara mais cheia do que vazia, alguns dos frequentadores do [restaurante] Rosário, vindos do Mineirão, tiveram uma ideia genial. Que tal realizarmos um jogo esta madrugada? A proposta saiu, sabem de quem? Do então solteirão cobiçado Ronam Ramos de Oliveira, o repórter da camisa amarela.” (páginas 30-31)

As donas dos famosos “rendez-vous”, casas de prostituição, como a famosa Zezé, iam ao Independência, na mais discreta aparência, fazendo desfilar suas meninas para a apreciação masculina. A célebre prostituta Hilda Furacão também frequentava o Estádio. Ela era atleticana e acabou se casando com Paulo Valentim, ídolo do Galo. Há jogos memoráveis do Atlético, golaços, detalhes pitorescos dos galãs-jogadores e o assédio feminino que, gostosamente, sofriam. O folclórico técnico Yustrich, com fama de homem durão é lembrado. Raimundo Sampaio, presidente pétreo do time do Sete de Setembro, a quem pertencia o campo, não tinha dinheiro para cuidar do estádio do Horto como devia. Usava cabras para “aparar” a grama do campo.

Os textos são despretensiosos, e talvez, por isso mesmo, encontram o tom certo para o público. Leiam, se puderem!

Jairo Anatólio Lima. Estádio Independência. Editora Conceito, BH, 2ª Edição, 2007. 84 páginas

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