Um blogue de quem gosta de ler, para quem gosta de ler.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Resenha nº 7 - Zorro, de Isabel Allende

Quando me emprestaram esse livro, preparei minha disciplina para ler algo sobre um personagem que não me atraía muito. Afinal, pensei, Zorro seria apenas um romance de capa e espada sobre o desgastado alter ego de Dom Diego de la Vega. Entretanto, lá no fundo do meu ser leitor, eu já me dizia aos ouvidos internos: “é um livro de Isabel Allende, provavelmente você vai encontrar mais do que espera”. Dito e feito. Mais uma vez, minha intuição não falhou. Aos poucos, vou me tornando um fã dessa escritora peruana de vivência chilena. Dela, já li Casa dos Espíritos, há muito tempo; Inés de Minha Alma e agora, Zorro.

Muito mais do que mais um livro sobre o Zorro/Dom Diego de la Vega, esse é um bom livro, bem escrito, embora não o considere o melhor da escritora. Isabell revisita o mito, tornando-o mais consistente, ressignificando-o. É um romance de formação, isto é, um romance em que o leitor vai acompanhando a construção do personagem, seguindo-lhe todo o processo da meninice, da adolescência e da maturidade.

O narrador participa da própria história que conta, na maior parte das vezes em terceira pessoa, com variações para a primeira. Algumas pistas são deixadas ao correr do texto sobre a quem pertenceria essa voz narradora, que só será revelada ao final da história. Não serei eu, caro leitor, a estragar o término pela antecipação da notícia. Leia-o — estou recomendando-o — degustando um texto de alta qualidade pelo capricho na construção dos personagens, não só de Dom Diego, mas de Nuria, Juliana e Isabel de Romeu, de Bernardo, da índia Toypurnia, de Coruja Branca, Alejandro de la Vega, do capitão Santiago de León, de Rafael de Moncada, do corsário Jean Lafitte, etc. Ainda, levará de presente um enredo coerente, que nos prende a atenção do começo ao fim do livro.

Indo da Califórnia a Barcelona e de volta à Califórnia, muitos fatos vão acontecendo; não falta, ainda, o fino humor de Allende; ela não poupa ninguém. Ironiza cada um dos personagens, que como a gente, têm sempre aspectos bons e ruins.

Mas, se você espera uma obra superficial, bobinha, sobre aventuras de capa e espada, cheia de lutas entre valorosos espadachins, ou entre o superior Zorro e seus fracos opositores, mude de perspectiva. Espertamente, Isabel não segue por esse caminho batido, por esse clichê. Ao contrário, ela dá ao personagem mítico uma infância e uma adolescência. Ou seja, numa frase, a escritora confere identidade e humanidade ao Zorro.

É narrada a profunda amizade entre Diego de la Vega e seu irmão do coração, Bernardo. Ambos têm sangue indígena correndo nas veias. Há toques românticos, como o amor dedicado de Bernardo à Coruja Branca e de Diego à Isabel de Romeu. Uma pitada de misticismo, ou se quiserem, de espiritualidade, com direito a ritos de passagens,  tão presentes na cultura dos indígenas perpassa algumas páginas desse Zorro.

Zorro – Começa a Lenda, Editora Betrand Brasil, 417 páginas

Nenhum comentário: