Um blogue de quem gosta de ler, para quem gosta de ler.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O Vento que veio do Leste

por Cleuber Marques da Silva

Em julho de 2014, fiz uma viagem ao chamado leste europeu. Visitei Berlim, Dresden, Praga (com direito a uma esticada até o belíssimo balneário Karlovy Vary), Bratislava, Budapeste e, finalmente, Viena. Gostei muito de tudo o que vi; desde a Berlim das avenidas largas, cidade dividida arquitetonicamente entre parte capitalista e comunista, a ensolarada e bela Praga, a Budapeste que ainda guarda marcas tão profundas da segunda guerra mundial, a Viena Imperial, com seus castelos de faustos e poderes.

Um passeio de barco pelo famoso Danúbio (que, contrariamente à belíssima valsa de Strauss, não é tão azul), mas que mesmo assim, encanta. Voltei de lá tocado pelo vento leste da literatura. Não me esqueço da dificuldade com a língua tcheca, com o húngaro, cuja escrita, cheia de sinais diacríticos, me parecia dar razão ao livro Budapeste, de Chico Buarque de Hollanda: o húngaro é uma língua que o diabo respeita (dada a dificuldade).

Resultado de imagem para os meninos da rua pauloChegando em casa, dei início a uma pesquisa de autores e livros; autores, conhecia alguns mais famosos; livros, pouquíssimos! Os nomes de Zsgimond Móricz, de Férenc Molnár, de Franz Kafka, de Milan Kundera não me eram estranhos. Afinal, lembrava-me muito bem de Os Meninos da Rua Paulo, com sua sociedade do betume, escrito por Molnar; A Metamorfose, de Kafka; A Insustentável Leveza do Ser, de Kundera, que tanto sucesso fizera anos atrás; Flor de Abandono, de Móricz.

Resultado de imagem para Frigyes KarinthyA empreitada me rendeu bons conhecimentos e juntei a minha lista nomes como Imre Kertécz, Sándor Márai, Derzsó Kostolány, Ismael Kadaré (mais conhecido por Abril Despedaçado), Karel Chapek, Isaac Bábel, Alexandr Púshkin (já o conhecia por A Filha do Capitão), Péter Esterházy, Leonid Andreiév (Os Sete Enforcados), Nikolai Gógol (Almas Mortas), Constantin Virgil Gheorghiu (A 25ª Hora, resenhado neste blogue), Max Blencher, Géza Csáth, Frigyes Karinty, Gyula Krúdy, Elias Ganetti, Agota Kristof e, por fim, Stanislaw Lem (conhecia-o por Solaris).

A Editora Cosac & Naif e Editora 34 possuem várias obras desses escritores em catálogo, principlamente a 34, que tem uma coleção do leste europeu, onde figuram também Dostoiévski e Ivan Turguêniev.

E aí eu me pergunto, seriamente: por que não divulgam esse material, de modo mais ostensivo? Estão longe do grande público ou, por isso mesmo se explica esse ocultamento midiático: acreditam que o grande público não está interessado nesses autores. Uma editora tem, normalmente, duas linhas de conduta: uma, de livros mais conhecidos do grande público, onde se incluem best-sellers, que vão vender mais e outra, de autores de prestígio literário, mas que custam vender. Com a primeira seleção, a casa ganha dinheiro; com a segunda, ganha prestígio, também sempre bem-vindo.

Resultado de imagem para Paulo RónaiEntre nós, os nomes de Paulo RónaiResultado de imagem para Bóris Schnaiderman e Bóris Schnaiderman são muito conhecidos, sobretudo dos leitores de obras francesas e russas em traduções diretas para o português. Rónai é o responsável pela Comédia Humana, de Balzac; Schnaiderman foi quem primeiro traduziu Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski,  direto do russo para o nosso idioma.

Ficam essas notas, amigo leitor, se você é tão curioso como eu e gosta de ler, tem paixão por literatura de qualquer latitude. A mim, pouco me importam a discussões sobre a validade ou não validade de se conhecer tal ou qual país. Literatura, como de resto, qualquer forma de arte, não tem fronteiras e obras, às vezes, se sobrepõem a atos ou ideologias abomináveis de seus autores.

Resultado de imagem para Gyúla KrúdyVale a pena conhecer esses escritores do leste europeu. Há uma antologia de contos húngaros, trazendo alguns dos nomes acima. A literatura russa, por exemplo, tem de ser conhecida por qualquer leitor amante de clássicos. É absolutamente imperdoável não se ter lido Dostoiévski, Tólstoi, Gógol.

Outra linha de interesse que me veio deste leste europeu é a questão do Império dos Habsburgos, que dominou as terras que mais tarde se dividiriam em Alemanha, Hungria, Aústria. Consegui, após muita espera impaciente, adquirir o livro Queda e Declínio do Império Habsburgo, de Alan Sked. Mas esta é já outra história. Ou História, assim mesmo, com H maiúsculo.

Nenhum comentário: