Contra vários depoimentos, lá fui eu assistir ao filme Prometheus, do diretor Ridley Scott. De sua filmografia constam clássicos como Blade Runner - Caçador de Andróides, Alien - O Oitavo Passageiro, Gladiador. Gostei muito dos dois primeiros e não gostei do último.
Prometeu é um titã da mitologia grega que rouba o fogo dos deuses e o entrega aos homens. A partir daí, a raça dos humanos progride sem parar. Agastado com o titã, Zeus lhe impõe um castigo digno das torturas gregas: acorrenta-o a um rochedo e, durante o dia, uma águia vem lhe devorar o fígado; durante a noite, porém, o órgão devorado se recompõe. Prometeu, então, é visto como o doador do conhecimento dos deuses ao homem.
Além disso, pode-se expandir a alegoria: Prometeu é a primeira interferência “alienígena” na vida dos Homens, já que os deuses olímpicos e os humanos não são da mesma raça. Inevitável trazer a essas primeiras impressões duas outras referências. Primeiro, o livro Eram Os Deuses Astronautas, de Erich von Daniken, que apontou estranhas interferências de seres extraterrestres na história e cultura de civilizações humanas antigas. Segundo, o filme 2001 – Uma Odisséia No Espaço, de Stanley Kubrick, com questionamentos parecidos aos que faz Prometheus. É, portanto, um título extremamente apropriado para o filme de Scott.
Prometheus trilha a mesma linha de Alien – O Oitavo Passageiro, ao qual faz referências o tempo todo. Na verdade, funciona como uma pré-sequência, assim como foi feito com as duas trilogias do Guerra Nas Estrelas. Os eventos deste Prometheus têm lugar antes daqueles de Alien.
Antes de entrar propriamente em minhas impressões sobre o filme, desejo trazer outra consideração. Quando autores ou diretores pensam uma série, devem, necessariamente, dotar o enredo de ganchos; questões importantes devem ter respostas definitivas adiadas, para que se constitua a série. Não é fácil fazer isso, sem perder o controle da mão que manipula as tensões do suspense e da outra, que manipula o interesse do público leitor/espectador. Pela estrutura da narrativa, claramente Prometheus foi concebido para ter uma (ou mais) sequências.
A primeira reclamação é: Prometheus é um filme frouxo, não provoca frisson na plateia. É verdade. O problema, me parece, está nas muitas referências ao Alien; os corredores imensos, claustrofóbicos e labirínticos; aquele ambiente gótico, cheio de claro-escuros; a forma como o monstro parasiteia os humanos, já nos foram dados em Alien. Aviso: mesmo o Alien não tem foco em dar sustos; é antes, um “causador de estranhezas”.
Não concordo com a ideia de que questões como “o que somos”, “para onde vamos”, “o que fazemos aqui” sejam essencialmente religiosas, tocando somente o campo da fé subjetiva. São questões que transcendem o religioso, embora não deixem de pertencer às questões de religião. São filosóficas. O Homem tem necessidade de se entender.
Algumas condenações foram feitas à criação de alguns personagens. Meredith Vickers (a bela Charlize Theron) seria sem expressão. Observemos bem, sua natureza humana ou androide é posta em dúvida por um dos outros personagens.
Ridley parece gostar de mulheres fortes. Como Ripley (Sigorney Weaver), Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) nos dá a impressão de uma mulher frágil e chorosa, presa aos sentimentos do passado; transforma-se numa guerreira, lutando com todas as unhas pela sua sobrevivência.
David (Fassbender) é um robô que aspira a ser humano, como aquele outro androide famoso da série Jornada Na Estrelas – A Nova Geração, o Data. Em Prometheus há uma cena denunciadora: David assiste a cenas do filme Lawrence da Arábia, copiando o visual de Peter O’Toole.
O filme é visualmente deslumbrante, usando recursos da computação gráfica. São cenas grandiosas, em câmara aberta, o que vemos na tela. Entretanto, aquelas questões filosóficas fundamentais não são respondidas. Quando os personagens pensam ter encontrado respostas, essas lhes fogem, transferindo-se para um outro planeta: “eles não são doidos para fazerem essa experiência [da criação dos humanos] em seu próprio planeta”, num óbvio aviso de que haverá uma continuação.
Ainda é cedo para julgar um filme que, forçosamente, deverá gerar um descendente. Falta-nos a visão de conjunto. Agora, se a sequência não vier, aí sim, concordo: Prometheus terá sido um péssimo filme. Levanta questões importantes demais para não tentar respondê-las.
Ridley Scott. Prometheus. Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green, Kate Dickie, Idris Elba.
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