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terça-feira, 3 de julho de 2012

Primeiras impressões de Prometheus, de Ridley Scott

Contra vários depoimentos, lá fui eu assistir ao filme Prometheus, do diretor Ridley Scott. De sua filmografia constam clássicos como Blade Runner - Caçador de Andróides, Alien - O Oitavo Passageiro, Gladiador. Gostei muito dos dois primeiros e não gostei do último.

Prometeu é um titã da mitologia grega que rouba o fogo dos deuses e o entrega aos homens. A partir daí, a raça dos humanos progride sem parar. Agastado com o titã, Zeus lhe impõe um castigo digno das torturas gregas: acorrenta-o a um rochedo e, durante o dia, uma águia vem lhe devorar o fígado; durante a noite, porém, o órgão devorado se recompõe. Prometeu, então, é visto como o doador do conhecimento dos deuses ao homem.

Além disso, pode-se expandir a alegoria: Prometeu é a primeira  interferência “alienígena” na vida dos Homens, já que os deuses olímpicos e os humanos não são da mesma raça. Inevitável trazer a essas primeiras impressões duas outras referências. Primeiro, o livro Eram Os Deuses Astronautas, de Erich von Daniken, que apontou estranhas interferências de seres extraterrestres na história e cultura de civilizações humanas antigas. Segundo, o filme 2001 – Uma Odisséia No Espaço, de Stanley Kubrick, com questionamentos parecidos aos que faz Prometheus.  É, portanto, um título extremamente apropriado para o filme de Scott.

Prometheus trilha a  mesma linha de Alien – O Oitavo Passageiro, ao qual faz referências o tempo todo. Na verdade, funciona como uma pré-sequência, assim como foi feito com as duas trilogias do Guerra Nas Estrelas. Os eventos deste Prometheus têm lugar antes daqueles de Alien.

Antes de entrar propriamente em minhas impressões sobre o filme, desejo trazer outra consideração. Quando autores ou diretores pensam uma série, devem, necessariamente, dotar o enredo de ganchos; questões importantes devem ter respostas definitivas adiadas, para que se constitua a série. Não é fácil fazer isso, sem perder o controle da mão que manipula as tensões do suspense e da outra, que manipula o interesse do público leitor/espectador. Pela estrutura da narrativa, claramente Prometheus foi concebido para ter uma (ou mais) sequências.

A primeira reclamação é: Prometheus é um filme frouxo, não provoca frisson na plateia. É verdade. O problema, me parece, está nas muitas referências ao Alien; os corredores imensos, claustrofóbicos e labirínticos; aquele ambiente gótico, cheio de claro-escuros; a forma como o monstro parasiteia os humanos, já nos foram dados em Alien. Aviso: mesmo o Alien não tem foco em dar sustos; é antes, um “causador de estranhezas”.

Não concordo com a ideia de que questões como “o que somos”, “para onde vamos”, “o que fazemos aqui” sejam essencialmente religiosas, tocando somente o campo da fé subjetiva. São questões que transcendem o religioso, embora não deixem de pertencer às questões de religião. São filosóficas. O Homem tem necessidade de se entender.

Algumas condenações foram feitas à criação de alguns personagens. Meredith Vickers (a bela Charlize Theron) seria sem expressão. Observemos bem, sua natureza humana ou androide é posta em dúvida por um dos outros personagens.

Ridley parece gostar de mulheres fortes. Como Ripley (Sigorney Weaver), Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) nos dá a impressão de uma mulher frágil e chorosa, presa aos sentimentos do passado; transforma-se numa guerreira, lutando com todas as unhas pela sua sobrevivência.

David (Fassbender) é um robô que aspira a ser humano, como aquele outro androide famoso da série Jornada Na Estrelas – A Nova Geração, o Data. Em Prometheus há uma cena denunciadora: David assiste a cenas do filme Lawrence da Arábia, copiando o visual de Peter O’Toole.

O filme é visualmente deslumbrante, usando recursos da computação gráfica. São cenas grandiosas, em câmara aberta, o que vemos na tela. Entretanto, aquelas questões filosóficas fundamentais não são respondidas. Quando os personagens pensam ter encontrado respostas, essas lhes fogem, transferindo-se para um outro planeta: “eles não são doidos para fazerem essa experiência [da criação dos humanos] em seu próprio planeta”, num óbvio aviso de que haverá uma continuação.

Ainda é cedo para julgar um filme que, forçosamente, deverá gerar um descendente. Falta-nos a visão de conjunto. Agora, se a sequência não vier, aí sim, concordo: Prometheus terá sido um péssimo filme. Levanta questões importantes demais para não tentar respondê-las.

Ridley Scott. Prometheus. Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Logan Marshall-Green, Kate Dickie, Idris Elba.

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