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sábado, 25 de outubro de 2014

Resenha nº 44 - O Leitor, de Bernhard Schlink

O autor tem um estilo objetivo, direto, quase sem uso de figuras de linguagem. Meu primeiro contato com essa obra se deu por intermédio do filme do mesmo nome. Estrelado por Kate Winslet e Ralph Fiennes, foi um dos indicados ao Oscar 2009; por ele, Kate Winslet ganhou o prêmio de melhor atriz principal.

Bernhard Schlink é professor de Direito e Filosofia na Universidade Humboldt desde 1996 . O Leitor foi o primeiro livro alemão a conquistar o primeiro lugar do New York Times. É também autor de outros Best Sellers, entre os quais, O Outro, igualmente filmado.

Michael Berg é um estudante de ensino médio, 15 anos, na Alemanha do pós-guerra. Um dia tem uma indisposição na rua e é socorrido por Hanna Schmidt, uma mulher 20 anos mais velha que ele. Com ela, Michael tem sua iniciação sexual. Ela nunca diz nada sobre o seu passado ou sobre sua vida. Aos poucos, o menino passa a frequentar a casa de Hanna e ela lhe pergunta sobre a escola. A partir desse momento, estabelece-se uma espécie de ritual entre os dois: ele lê para ela várias obras literárias, ela lhe dá banho e fazem amor. Pouca coisa ele sabe sobre ela: trabalha como cobradora em uma linha de bonde. Certa vez, fazem uma viagem de bicicleta, aceita pela família dele porque Berg, apesar de ter estado doente, consegue boas notas e passa no final do ano.

A viagem de bicicleta torna-os mais íntimos; ela se inscreve nas pensões como mãe dele, mas deixa que o jovem amante tome todas as providências quanto a preencher formulários, solicitar a comida nos restaurantes.

Depois, certo dia, Hanna recusa ser promovida à categoria de motorneira da companhia de bonde. Vai trabalhar na Siemens, empresa de comunicação. Neste período é que desaparece, sem deixar qualquer justificativa para Michael. Apesar disso, a presença dela estará sempre na cabeça do estudante.

Michael tem outros relacionamentos, como seria normal se esperar, mas não são duradouros; suas namoradas se queixam de que ele é muito razão e pouco coração. É um homem amargo. Enfim, seus estudos na faculdade direcionam-se para a área de direito. Fazendo estágio, ele volta a tomar contato com Hanna, após muito tempo. É que ele é designado como estagiário da faculdade e destacado para observar o julgamento de uma criminosa de guerra. A criminosa é precisamente Hanna. Ela participara de um destacamento de guerra alemão responsável pela guarda das prisioneiras de campos de concentração. É acusada por uma sobrevivente, de ter sido a mandante de várias execuções de prisioneiras, após tê-las obrigada a ler livros para ela.

Parece alheia ao processo, com atitudes que vão complicando cada vez mais o seu julgamento, irritando o promotor e o juiz. A certa altura, diz ter feito apenas o que mandaram-na fazer. Michael descobre o porquê de Hanna nunca ter comentado sobre sua vida, quando estavam juntos. Ela, então, tem de escolher entre revelar seu segredo e se defender, pelo menos parcialmente, da acusação de ser a autora de um relato do incêndio de uma igreja, no qual pereceram várias prisioneiras, ou calar-se e deixar o tribunal condená-la à prisão perpétua. Ela prefere arcar com a condenação, mesmo não tendo escrito o documento.

Michael Berg casa-se com Gertrud, ex-colega de faculdade e atuante na área de direito. Ela se torna juíza. Ele, entretanto, marcado pelo que assistiu no julgamento da sua antiga amante, foge daquela função e se especializa em História do Direito, realizando pesquisas. Têm uma filha, de nome Júlia. Pouco tempo depois, quando Júlia tinha cinco anos, Gertrud e Michael se divorciam. O relacionamento simplesmente havia chegado ao fim e a separação fora consensual.

Michael Berg, sempre preso à Hanna Schmidt e ao passado alemão da Segunda Guerra Mundial, que o envergonha e angustia, passa a remeter para sua ex-amante obras lidas e gravadas em fita cassete. Tal fato será extremamente importante na vida da prisioneira. O outro contato com a diretora do presídio acontece na semana em que Hanna finalmente obtém o indulto por bom comportamento e está para ser libertada. Michael a visita pela primeira vez; ela está velha, grisalha, mas mantém certo frescor. Conversam pouco e ele lhe diz ter-lhe arranjado um apartamento e um trabalho de costureira. 

Michael Borg diz, no final do livro, ter tido a necessidade de escrever a história vivida pelos dois como um meio de exorcizá-la, um meio de ficar livre dela:

“As camadas tectônicas de nossa vida descansam tão apertadas umas sobre as outras, que sempre encontramos o fato anterior no posterior, não como algo completo e realizado, mas como algo presente e vivo. Entendo isso. Todavia às vezes acho difícil suportar. Talvez eu tenha escrito a nossa história porque queria mesmo me ver livre dela, ainda que isso não seja possível.”

O Leitor não é exatamente “uma daquelas obras-primas para ser lidas antes de se morrer.” Entretanto, é uma história de boa qualidade, bem conduzida por um autor competente. Entrega ao chamado grande público um produto capaz de emocioná-lo e prender-lhe a atenção. Por isso mesmo tornou-se um Best-seller.

SCHLINK, Bernard. O Leitor. Editora Record, 3ª edição. São Paulo, SP: 2009

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