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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sobre a leitura no Brasil

A revista Língua do mês de agosto do ano corrente trouxe uma pequena matéria, às páginas 22, sobre os dados da Câmara Brasileira do Livro, concernentes aos hábitos dos leitores no Brasil.

Dos 90 milhões de pessoas letradas no nosso país - todas maiores de 15 anos - 14 milhões não leem nada. E não se está falando de analfabetos funcionais, isto é, aqueles que aprenderam somente a escrever/ler o próprio nome. Estamos falando de leitores com alguma proficiência.

Assustador, não?

Um terço do leitor da classe A admite ter total falta de prazer com o ato de ler e olha que esses fazem parte de nossa elite cultural. Um entre quatro indivíduos das classes AB dizem que não leem por preguiça ou impaciência. E a mesma relação, desta vez entre os de nível superior, afirma categoricamente não gostar de ler e nem ter pegado em qualquer livro após os 19 anos, se não tiver sido por obrigação (em geral, a pedido da escola ou por necessidade do emprego).

Daí decorre algo conhecido e já divulgado: a falta de leitura se reflete na dificuldade de produzir textos de qualquer gênero. Esta situação é claramente notada em sala de aula. Leciono em curso preparatório do ENEM em Betim e corrigir os textos argumentativos é tarefa quase impossível, embora eu tente.

São dois processamentos mentais diferentes, o da escrita e o da leitura. Entretanto, há uma imbricação entre ambos, pois não adianta nada alguém dominar todas as regras gramaticais (supondo-se tal feito ser mesmo possível a algum mortal) e não ter nada para dizer. Os textos escritos têm uma forma diferente de apresentar argumentos, no caso específico do gênero argumentativo, exigido pelos Exames Nacionais do Ensino Médio.

Há uma correlação entre bons leitores e bons escritores. Estes são ou foram bons leitores, embora a recíproca nem sempre seja verdadeira. É que fazer literatura depende de fatores muito mais complexos.

Entretanto, qualquer um pode escrever textos aceitáveis, com clareza de ideias, argumentação eficaz. É necessário treino, mas o hábito da leitura é fundamental. E por esse motivo, não se ensina a escrever com propriedade da noite para o dia; é um processo longo, que deveria ter sido construído ao longo de toda a vida escolar.

Mas, para dar um alento, na mesma revista Língua, lá nas páginas 61, noticia-se, na entrevista com o escritor de literatura infantojuvenil Alexandre de Castro Gomes. Ele nos diz que “O crescimento do setor é inegável. E vejo isso como um fenômeno mundial, não só na literatura. Bandas como They Might Be Giants estão gravando material infantil. Animações da Pixar e filmes de heróis estão entre os campeões de bilheteria.”

O Brasil tem 1.800 livrarias, espalhadas por todo o seu território; destas, 900 estão no estado de São Paulo. São 200 só na cidade paulistana; o Rio conta com umas 150. O Amapá e o Acre, porém, têm apenas 3 cada um.

No caso brasileiro, a proporção é de 1 livraria para cada 84.500 habitantes. Na Argentina, 1 para cada 50.000; os EUA têm 1 para cada 15 mil. Não é difícil chegar-se ao motivo de porque a tiragem de livros no Brasil, excetuando-se alguns casos ainda isolados, ser pífia.

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