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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Resenha nº 2 - Em Algum Lugar do Paraíso, de Luís Fernando Verissimo

As impressões ao se ler Luís Fernando Verissimo já se tornaram um lugar comum: são de prazer. Não é diferente com este seu novo livro, “Em algum lugar do paraíso”. Ao longo de 41 textos curtos e bem escritos, há uns simplesmente hilariantes e outros que nos provocam aquele sorriso diante do humor fino e da inteligência das situações criadas pelo escritor.

Verissimo domina como ninguém o timing das piadas. Toda piada é construída sobre uma estrutura em que o autor nos leva sedutoramente por um raciocínio errado para, em algum momento, aplicar um “gatilho”, isto é, uma reviravolta na sequência de ideias por meio de uma expressão, uma palavra, e nos revelar que íamos pelo caminho equivocado.

Nesta obra, por exemplo, gostei muito da crônica que abre o livro e dá nome a ele. A descoberta do sexo realizada por ninguém menos que Adão nos mostra o personagem na mais cândida inocência e desconhecimento das reações do próprio corpo: ganha uma mulher, Eva, e se espanta com o crescimento do seu membro, “que ele pensara que fosse só para fazer xixi”. E avisa para Eva:

“- É melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce.”

Há também o engraçado “O Olhar da truta”: um freguês de restaurante não consegue escolher a truta viva, ainda no aquário, que o desafia a fazê-lo. “Uma mulher fantástica” aborda a insegurança de uma mulher que deseja que o marido receba muito bem sua tia, em visita a sua casa. Ela se arrepende da visita da parente ao constatar que o marido a acha “fantástica demais”.

Talvez um pouco erudita, a crônica de fechamento do livro, “Entra Godot” só faz sentido se compreendida em sua intertextualidade assumida com a excelente peça teatral “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. A peça é um clássico do chamado Teatro do Absurdo, em que se aborda, por meio de um texto aparentemente sem pé nem cabeça, os absurdos da vida humana.

Enfim, “Em algum lugar do paraíso” é um legítimo Verissimo, se não o melhor dentre os nossos escritores contemporâneos, seguramente um dentre o seleto time dos melhores.

Consuma-o sem moderações. Faz muito bem à nossa saúde e nos ativa os humores.

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