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domingo, 7 de março de 2021

Resenha nº 169 - Política, Ideologia e Conspirações, de Gary Allen e Larry Abraham


Título original: None dare call it conspiracy

Autores: Gary Allen e Larry Abraham

Tradutor : Eduardo Levy

Editora : Faro Editorial

Edição : 1ª

Copyright : 2017

ISBN : 978-85-62409-90-5

Gênero textual : relato político

Origem : EUA

 Com certeza, você já ouviu estarrecido que apenas um por cento das pessoas detém mais riquezas do que os restantes noventa e nove por cento dos demais. Bem, esta informação tem cheiro e cara de mais uma daquelas Teorias de Conspirações que circulam no mundo. Ainda mais se você adiciona ao cardápio o nome dos Illuminati.

Na época do Iluminismo, certas organizações secretas denominadas os Illuminati (Iluminados, em Latim) foram descobertas pela investigação policial na antiga Baviera e proibidas pelo soberano Carlos Teodoro. Foram acusados de ingerência na política de estado, agindo por meio de conspirações diversas.

Gary Allen é graduado em História pela Stanford University. Foi um membro eminente da John Birch Society. De 1964 em diante, escreveu também artigos para revistas como Conservative Digest e American Opinion. Ocupou o cargo de redator dos discursos de George Wallace, durante as campanhas deste governador do Alabama à presidência.

Larry Abraham, também formado em História, liderou movimentos republicanos ainda na juventude. Tornou-se uma voz ativa dentro do meio liberal; foi cofundador da PanAmerica Capital Group, Inc., autor e palestrante sobre temas políticos, econômicos e financeiros.

E o que estes dois autores nos dizem neste Política, Ideologia e Conspirações – livro famoso no exterior, escrito e publicado em 1971 – e só agora merecendo uma primeira edição no Brasil? Basicamente, uma pequena parcela da humanidade detém o poderio econômico maior que o restante dos habitantes deste planeta. E quando se possui um poderio econômico tão grande, pode-se entender a influência que podem exercer sobre governos. E aí temos um problema: quem detém poder luta para mantê-lo, não é mesmo? E mais: luta para expandi-lo. Fará qualquer coisa para continuar a ter o poder nas suas mãos e nas de seus familiares.

Afinal, foi assim desde que o mundo é mundo: temos exemplo disto nos Bórgias, nos Césares, nos Médicis, etc. Não serão estes os nomes a desfilarem neste livro, substituídos pelos poderosos do mundo moderno: Os Rockefeller, os Rothschild, os Warburg e alguns mais. Mas a tese central deste livro polêmico não é exatamente declinar os nomes dos mais ricos, como se depreende do título.

Gary e Larry (daria uma dupla de música country norte-americana, não?) arrolam uma quantidade impressionante de argumentos para dizer: “olha, enquanto nós achamos que comunismo e capitalismo são arquirrivais, como óleo e água não se misturam, os tais detentores do poder, lá em cima, não têm essa delimitação ideológica. Sendo capitalistas, todos eles, fazem e fizeram acordos com os comunistas sempre que disto pudesse resultar mais dinheiro ou poder para seus cofres – uma coisa puxa a outra.

Anotei a primeira passagem do livro:

“Os ‘acidentalistas’ querem que acreditemos que é ‘simplista’ atribuir qualquer um dos nossos problemas a planejamento, e que na verdade, todos eles são causados pela tríade Pobreza, Ignorância e Doença. Os ‘acidentalistas’ ignoram o fato de que alguns dos países mais avançados do mundo foram conquistados pelos comunistas, como a Tchecoslováquia, que era um dos mais industrializados e Cuba, que tinha a segunda maior renda per capita da América Central e do Sul.” (página 14)

Levantando argumentos a favor de sua tese, os dois autores, calçados em documentos, afirmam que

“Karl Marx foi contratado para escrever O Manifesto comunista, um pega-trouxas demagógico para atrair as massas, por um misterioso grupo que se autonomeava a Liga dos Homens Justos. Na realidade, O Manifesto comunista já estava em circulação havia muito tempo quando o nome de Marx passou a ter reconhecimento suficiente para estabelecer sua autoria do manual revolucionário.” (página 29)

Na busca das evidências para desenvolver uma variação do seu tema, os autores deste livro apelam para um efeito textual extremamente sedutor: partem do conhecimento que qualquer de nós temos sobre o crime organizado. Dizem-nos que estes mandatários são gente sem educação formal, que são formados na” pobreza e aprenderam o ofício nos becos sujos de Nápoles, Nova York e Chicago”.

E aí deduzimos facilmente: “nossa, isto deve ser verdade, conheço realidade parecida com esta aqui mesmo, no Brasil. Igualzinho aos traficantes nas comunidades pobres espalhadas por este imenso país”. Baseados nesta analogia que você foi levado a formar em sua mente, eles acrescentam:

“Agora suponha que um sujeito com a mesma personalidade amoral gananciosa dos chefes da máfia nascesse em uma família patrícia de grande riqueza, estudasse nos melhores colégios secundários e depois em Harvard, Yale ou Princeton, com uma possível pós-graduação em Oxford. Nessas instituições, viria a conhecer bem história, economia, psicologia, sociologia e ciência política. Depois de graduar-se em estabelecimentos tão ilustres, seria possível encontrá-lo pelas ruas vendendo bilhetes de jogo, passando maconha para adolescentes ou controlando prostíbulos? Será que ele participaria de guerras de gangues? De modo algum. Pois com esse tipo de formação, ele perceberia que se você quer poder, poder de verdade, o que a história ensina é: ‘Entre para o governo’. Torne-se político e se empenhe para conquistar poder político ou, melhor ainda, transforme políticos em laranjas seus. É aí que está o poder de verdade – e o dinheiro de verdade.” (página 27)

Escrevendo que sempre o que está por trás dos conflitos econômicos e políticos deste grupo detentor do poder – nomeados pelos autores como Adeptos – pelo mundo todo são os ganhos e manutenção do poder daquele pequeno grupo dos absolutamente ricos. Os autores afirmam, por exemplo, a morte do Rei Ferdinando, dada como estopim da Primeira Guerra Mundial pelos historiadores, nada mais foi que um pretexto.

Os adeptos sempre agiram para capturar a esquerda. Garry e Larry argumentam, nesta linha de raciocínio:

“Não existe nenhum movimento proletário nem mesmo movimentos comunistas, que não tenha operado de acordo com os interesses do dinheiro, na direção indicada pelo dinheiro e pelo período permitido pelo dinheiro – e isso sem que os idealistas entre seus líderes tenham a mais leve suspeita do fato.” (página 64)

E Seguem:

“Na Revolução Bolchevique veem-se alguns dos homens mais ricos e mais poderosos do mundo financiando um movimento que alega como base de sua própria existência a ideia de privar homens como os Rothschild, os Rockefeller, os Schiff, os Warburg, os Morgans, os Harriman e os Milner de sua riqueza. É evidente, no entanto, que esses homens não têm o menor medo do comunismo internacional. A conclusão lógica é que... o controlam.” (página 78)

De acordo com Gary e Larry, são membros das famílias Rockefeller e Eaton que têm o poder de transferência tecnológica à União Soviética (o livro foi escrito em 1971, lembre-se. A URSS ainda estava de pé).

Uma conclusão para tudo isto, sendo verdade, é que será muito mais fácil para controlar, manipular governos totalitários, tanto de esquerda quanto de direita, por mão que saiba jogar e tenha dinheiro e poder. Isto é o que tem sido feito no mundo. Tais famílias – Adeptos, na terminologia dos autores – não conhecem crise. Cada vez têm mais poder e mais dinheiro. Cada vez mais suas influências se disseminam pelo mundo.

Enquanto isto, para seguir a linha de raciocínio dos dois escritores, fico eu e ficamos nós cá embaixo, trocando ódios e ameaças de acordo com nossas ideologias. Tal estado seria ótimo, pois assim não vemos o que, de verdade, acontece no andar superior.

Resta nos perguntarmos: mas tudo isto – e a partir do título – não seria meramente uma Teoria de Conspiração, como tantas circulantes por aí? Pode ser. O livro nos deixa com muitas pulgas atrás das duas orelhas. Incomoda-nos sermos estúpidos. Um fantoche, provavelmente, se sentiria assim, se pudesse ter sentimentos.

Teoria de Conspiração. Pode ser. Mas que o livro é bem escrito, tem argumentos bem arranjados e cita fontes para certos fatos, isto também é verdade. 

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