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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Resenha nº 3 - A menina que roubava livros, de Marcus Zusak

“A menina que roubava livros” é um ótimo romance. O enredo não é cronológico, isto é, os fatos são narrados, às vezes, fora de sua sequência temporal, em regime de memória. É um livro sobre a importância das palavras. A personagem central, a pequena Liesel Meminger,  rouba livros porque, por meio dos vocábulos, precisa encontrar um sentido para sua vida e ela não tem dinheiro para comprar os livros. Realmente, a importância da palavra é tanta que não é demais anotar: Hitler levou a Alemanha à guerra e ao nazismo por causa de seus discursos inflamados.

O narrador-observador é a Morte, a “ceifadora de vidas”. Mas ela não é sinistra ou macabra; tem até, para com a raça humana, uma relação de admiração. Ela se apresenta:

“Sou só garganta... Não sou violenta. Não sou maldosa. Sou um resultado” (pág. 13).

A admiração está expressa às páginas 478:

“uma última nota de sua narradora: os seres humanos me assombram.”

Markus Zusak é dono de um estilo inventivo, que introduz notas curtas e pequenas antecipações no corpo da narrativa. É um Best-seller com milhares de livros vendidos. A narradora instaurada por ele, a Morte, chega a ser poética em muitas passagens. Ela assiste ao drama dos personagens com misto de respeito, consternação e responsabilidade para com seus deveres de carregar as almas. Ao todo, são três vezes que ela encontra Liesel Meminger, e o motivo pelo qual a narradora seleciona a história de Liesel é que

“há uma multidão de histórias (um mero punhado, como sugeri antes) que permito que me distraiam enquanto trabalho, assim como as cores. Eu as apanho nos lugares mais azarados, mais improváveis, e me certifico de recordá-los enquanto executo meu trabalho. A Menina que Roubava Livros é uma dessas histórias” (pág. 477).

O pano de fundo dessa narrativa é a Segunda Guerra Mundial. Alemanha, a pequena localidade de Molching, perto de Munique. A menina Liesel Meminger, logo após presenciar a morte do irmãozinho no colo da mãe, é abandonada por ela. Seus pais adotivos são Rosa Hubermann, uma dona de casa rabugenta e Hans Hubermann, pintor de paredes e acordeonista nas horas vagas.

Liesel tem uma estranha compulsão: ela rouba livros. E logo de início, vai para a casa dos pais adotivos, levando um livro roubado: “O Manual do Coveiro”, subtraído enquanto um coveiro, em um momento de distração, deixa-o cair na neve.

Residente à Rua Himmel, 33 (localizada na parte pobre da cidade), Liesel recebe o carinho e atenção de Hans, com quem se afiniza. Ele lê “O Manual do Coveiro” para ela, um pouco a cada noite.

Outros livros vão se seguindo; o próprio Hans lhe traz, certa feita, dois livros que foram trocados por cigarros. Ele toca acordeão para ela. A menina que roubava livros faz amizade com Rudy Steiner; tornam-se companheiros inseparáveis. Ele é uma espécie de namorado que a menina nunca teve.

Os Hubermann dão abrigo a Max Vanderburg, um judeu que é escondido no porão da casa. Logo, Max e Liesel tornam-se amigos. Max escreve para a pequena amiga uma história intitulada: “A Sacudidora de Palavras”, com os relatos frequentes que ela faz para ele.

Este livro é outra prova feliz de que best sellers podem ser ótimas obras de literatura. Não se pode lê-lo um pouquinho a cada dia; minha leitura avançou, em vários dias, pela madrugada. Eu tinha de saber se em algum ponto da narrativa, haveria o enfrentamento, cara a cara, entre a Morte-narradora e a pequena Liesel.

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