O
que pode tornar uma autora, um autor esquecidos? Mesmo se eles forem bastante
populares em seu tempo? Para estas perguntas podemos pensar em algumas causas.
Primeiro,
pode ser que novos movimentos literários lancem no limbo autores antes
conhecidos. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Coelho Neto. Bom escritor,
tendo sido considerado “o príncipe dos escritores”, sofreu intensa perseguição –
hoje, dizemos sofreu apagamento – pelo rolo compressor do modernismo. Coelho
Neto foi autor muito apreciado antes daquele movimento; escreveu um romance
gótico, uma espécie de Frankenstein brasileiro, Esfinge.
Segundo,
podemos falar do desinteresse comercial das editoras. Não desejo ser injusto,
sei das dificuldades enormes por que passam as casas de publicação literária
para sobreviverem do que publicam, num país com tão poucos leitores per
capta por motivos que não me cabe analisar aqui. Muitas vezes, certo autor/autora
que já não vende tanto pode ser preterido por alguém que possua maior apelo de
vendagem – mesmo que a qualidade, por vezes, não chegue nem perto da obra
preterida.
Terceiro
– o que é muito pior – o esquecimento por serem, simplesmente, mulheres,
autoras. A maioria das doze artesãs da palavra que integram esta minha lista teve
o período de maior evidência entre o final do século XIX e a primeira metade do
século XX. Todas as doze autoras são falecidas.
Quarto
– argumento que se vincula ao terceiro, acima – por serem mulheres em defesa de
propósitos considerados incômodos pela sociedade. Aliás, este argumento,
aplicado aqui especificamente às mulheres, se aplica também em épocas de
ditaduras, de esquerda ou de direita, a artistas em geral. Parece que ditadores
morrem de medo das expressões artísticas, tanto que as vigiam ou as proíbem: Index
Librorum Prohibitorum (Lista de Livros Proibidos).
Encontrei
escritoras brasileiras esquecidas de maneira sistemática, o que me motivou a
este projeto. Estou inconformado com a qualidade das obras e da importância
histórica das publicações e o limbo a que foram atiradas autoras e suas
produções. Para tanto, vou me apoiar no excelente trabalho da professora Nelly
Novaes Coelho, Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, livro este
esgotado na editora.
Abordarei,
dentro do Projeto Escritoras Brasileiras Esquecidas, uma publicação de
cada autora selecionada, para resenha neste blogue. Serão elas, levantadas em
pesquisa prévia: Dinah Silveira de Queirós (A Muralha), Carolina Maria
de Jesus (Casa de Alvenaria), Júlia Lopes de Almeida (A Intrusa),
Maura Lopes Cançado (Deus é Hospício), Carolina Nabuco (Chama e
Cinzas), Emília Freitas (A Rainha do Ignoto), Adalgisa Nery (A
Imaginária), Ana Cristina César (A Teus Pés), Teresa Margarida da
Silva e Orta (As Aventuras de Diófanes), Maria Firmina dos Santos (Úrsula),
Maria Benedita Bormann (Lésbia) e Emília Moncorvo Bandeira de Melo (A
Luta).
Várias
destas queridas escritoras tinham posição muito definida na defesa do
abolicionismo e do pré-feminismo (aspirações de igualdade de direitos sempre tiveram
defensoras, embora não constituíssem ainda um movimento com pauta de
reivindicações), dentro de uma cultura conservadora e machista. Vale lembrar, Lisístrata
é uma comédia grega de Aristófanes, em que mulheres, fartas da guerra, iniciam
uma greve sexual de consequências... para lá de socialmente incômodas.
Felizmente,
os tempos são outros ou os assuntos que antes incomodavam a sociedade hoje são
mais deglutíveis ou não fazem mais estardalhaço. É assim que estas mulheres vêm
sendo resgatadas, em publicações disponíveis. Emília Freitas teve seu volume A
Rainha do Ignoto magnificamente republicado pela editora Wish. É inacreditável
o alheamento perpetrado, mas trata-se do primeiro romance com temática de
ficção científica/fantasia escrito no Brasil. Talvez, apesar da minha indignação,
isto pouco importe, já que ficção científica de autores brasileiros não
encontra espaço de publicação entre nós ou, se o encontra, é sempre reduzido.
Seja
como for, vêm ganhando notoriedade Maria Firmina dos Reis, com o seu Úrsula
e Carolina Maria de Jesus, com Quarto de Despejo. Que bom, desejo
contribuir ainda que minimamente para torná-las mais conhecidas.
Surpreendentemente,
pelo menos para mim, dei com o resultado de uma pesquisa na internet, não sei
se verdadeira (suponho que o seja): homens não leem obras escritas por
mulheres. Quero ser exceção. O único gênero que reconheço em literatura é o das
obras literárias em si: gênero conto, romance, novela, poemas, etc.
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