Conheça a história de Umberto Eco, grande intelectual e autor de sucesso
mundial
Estudioso, linguista e filósofo alcançou a fama em todo o mundo com um
romance medieval e erudito, "O nome a rosa"
AFP - Agência de Notícias
Publicação:20/02/2016 10:36
Grande intelectual italiano, o
escritor Umberto Eco, que morreu na noite de sexta-feira aos 84
anos, era um estudioso, linguista e filósofo, que alcançou a fama em
todo o mundo com um romance medieval e erudito, "O nome a rosa".
Filósofo de formação, ficou famoso tarde, quando estava próximo de completar
cinquenta anos, tendo conseguido um enorme feito com seu primeiro romance,
publicado em 1980. "O nome da Rosa" vendeu milhões de cópias e foi
traduzido para 43 idiomas.
O livro foi adaptado para o
cinema, em 1986, pelo francês Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel do
monge franciscano Guillaume de Baskerville, o ex-inquisidor encarregado de
investigar a morte suspeita de uma freira em uma abadia do norte da Itália.
Salpicado com latin, o suspense deste renomado semiólogo foi ainda alvo de
edições piratas, incluindo uma em árabe sob o título de "Sexo no
convento".Outra consequência, significativa para a mercado editorial
italiano, "O nome da rosa reviveu o romance na Itália e a literatura
italiana no exterior. Os escritores italianos voltaram a ser traduzidos",
ressalta o escritor e crítico italiano Alain Elkann. Eco, neto de um editor da
pequena burguesia, contou que começou a escrever aos dez anos de idade
histórias que ele mesmo editava.
Nascido em Alessandria, no norte
da Itália, em 5 de janeiro de 1932, Umberto Eco estudou Filosofia na
Universidade de Turim e dedicou sua tese ao "problema estético em Tomás de
Aquino". Este especialista em história medieval, que traduziu Nerval em
italiano e que conhecia de cor Cyrano de Bergerac, também trabalhou para a
rádio-televisão pública italiana RAI, uma oportunidade que lhe serviu para
estudar o tratamento da cultura pela imprensa.
Poliglota, casado com uma alemã,
Eco lecionou em várias universidades, especialmente em Bolonha (norte), onde
ocupou a cadeira da semiótica até outubro de 2007, quando se aposentou. Eco
explicou que demorou para embarcar no gênero da ficção porque "considerava
a escritura romanesca como uma brincadeira de criança que ele não levava a sério".
Homem de esquerda
Depois de "O nome da
rosa", ele ofereceu aos seus leitores "O Pêndulo de Foucault"
(1988), "A Ilha do Dia Anterior" (1994) e "A Misteriosa Chama da
Rainha Loana" (2004). Seu mais recente romance, "Número zero",
publicado em 2014, é um thriller contemporâneo centrado no mundo da imprensa.
Ele também é o autor de dezenas
de ensaios sobre temas tão diversos como a estética medieval, a poética de
Joyce, a memória vegetal, James Bond, a história da beleza ou da feiura.
"A beleza se situa dentro de certos limites, enquanto a feiura é infinita,
de modo mais complexo, mais variado, mais divertido", explicou em uma
entrevista em 2007, acrescentando que sempre "teve afeição por
monstros".
Afirmando que "escrevia para
se divertir", Il Professore - de olhos maliciosos e uma barba branca -
também era bibliófilo e possuía mais de 30.000 títulos, incluindo edições
raras. "Eco era o primeiro da turma, muito inteligente, muito erudito. Ele
encarnou a figura do intelectual europeu. Sentia-se tão a vontade em Paris ou
Berlim quanto em Nova York ou no Rio de Janeiro", afirma Alain Elkann.
Militante de esquerda, Eco não
foi um escritor trancado em sua torre de marfim, sua abertura não o impediu de
ter um olhar crítico para com a evolução da sociedade moderna. Após a vitória
eleitoral de Silvio Berlusconi em 2008, dedicou um artigo ao retorno do
espírito dos anos 40, lamentando "ouvir discursos semelhantes aos da
'defesa da raça', que não só atacava os judeus, mas também ciganos, marroquinos
e estrangeiros em geral".
Sua última luta foi conduzida
juntamente com outros escritores, incluindo Sandro Veronesi (Chaos calma), para
proteger o pluralismo das editoras na Itália após a aquisição da RCS Libri pela
Mondadori, propriedade da família Berlusconi. Umberto Eco e outros grandes
nomes da literatura italiana decidiram então se juntar a uma editora nova e
independente batizada "La nave di Teseo" (o navio de Teseo, o mítico
rei de Atenas), liderada por Elisabetta Sgarbi, ex-diretora da Bompiani, florão
do grupo RCS, editora na Itália de Umberto Eco, mas também do francês Michel
Houellebecq.
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